O Saci da ponte do Rio Preto que assustava o bairro do Caraguava

O Parque D’Avillle era só areião, em meados dos anos 90. E a molecada brincava de esconde-esconde até a noitão e depois ficava reunida na esquina para contar histórias de terror.

Entre várias histórias de assombração, foi o tio do Kiko que contou a mais legal da noite. Ele disse que vinha do Caraguava e, ao passar pela ponte do Rio Preto, sentiu que a bicicleta ficou tão pesada que mal conseguia pedalar.

Ao olhar para trás, viu três sacis sentados na garupa e mais cinco sacizinhos correndo felizes atrás dele. O seu corpo ficou todo arrepiado e o seu cabelo comprido cheio de trança. Contou que os sacis costumavam aparecer por ali a tardinha, sempre ao pôr-do-sol.

Pronto! A molecada ouviu atenta e estas ideias na cabeça de criança é igual bexiga apertada em viagem longa. Ninguém segura! E ficou decidido que todos iriam procurar o Saci no dia seguinte. E lá se foi a expedição, composta pelos seguintes membros: Kiko, Perna, Willian, Marcelo, Márcio e o Fabiano.

O destino era os fundos do Parque D’Aville, de onde era possível ver a ponte do Rio Preto, por meio de pequenos portinhos cravados na margem do rio.

Antes do pôr-do-sol, os cinco bateram de casa em casa perguntando se os moradores já tinham visto a suposta aparição e, por incrível que pareça, nenhum deles ousava sair a noite com medo do menino negrinho de uma perna só.

Agora era só esperar o horário e ficar atento ao menino de gorrinho vermelho. Criança de 10 anos esperando bonitinho não é fácil de encontrar e foi assim que o Kiko achou uma areia movediça e puxou a brincadeira “quero ver quem atola mais”. Todos passaram a pisotear a areia com muito medo do lamaçal, menos o Kiko e o Marcelo, que levaram a brincadeira a sério e competiram de verdade.

O sol começava a se pôr quando os dois perceberam que já estavam com a lama um pouco acima da cintura. No começo, os outros caíram na gargalhada, mas logo perceberam que estava difícil de tirar os amigos do buraco. Muitas fracassos depois, o desespero bateu e, com o perdão da igreja católica, muitos santos foram inventados durante reza feita pelos dois meninos-tatus.

Só quando o Márcio gritou bem alto que o Saci estava vindo que o Kiko conseguiu sair do buraco. O desespero foi tanto que ele se debateu aos berros/choro igual a um beija-flor, pairando no ar.

Marcelo estava de roupa branca e tinha acabado de tomar banho. Se sujasse a roupa na certa apanharia de sua mãe. Estava escurecendo. Alguns Urubus apareceram e começaram a rodear a cabeça dos meninos, deixando-os mais medrosos. Nada de tirar o Marcelo. A lama estava começando a endurecer na parte de baixo, enquanto a esperança de tirá-lo dali foi ficando cada vez mais mole.

Mas foi o Perna que teve a ideia salvadora. Procurou alguns pedaços de madeira e começou a calçar em volta da lama, para que o Marcelo pudesse ter apoio para sair. E com a ajuda de todos, mesmo com a roupa toda imunda, finalmente ele saiu de dentro da areia.

E a molecada não voltou mais a procurar o Saci…

Texto e Criação: Márcio Ribeiro
Imagem: pixabay

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Publicado na edição 12 do antigo Jornal impresso do autor.  Baseado em fatos reais!

 

 

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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