Mea Culpa

Por : Marcos Rodrigues

“Há no congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses…”.

O cara que em 1993 pronunciou tais palavras nem mesmo em seus piores pesadelos imaginaria que um dia, depois de grandes êxitos, viria a ser considerado, pela convicção de alguns, um dos maiores quadrilheiros do Brasil.

Mas nem todas as mazelas e roubalheiras da administração pública se resumem a ele.

Segundo o Ministério Público Federal, tem muita gente que já fazia as mesmas coisas e com eficiência magistral há mais de 40 anos, e nada garante que não continue a fazer ainda hoje.

No dia a dia todos nós sabemos que desde as altas esferas de poder até o chão da sociedade existe muita gente corrupta, oportunista e injusta.

Na administração pública forjam-se licitações para beneficiar parceiros que mais tarde nos devolverão a vantagem de alguma forma. Sejam sítios, apartamentos ou malas de dinheiro aos montes.

Quem não conhece alguém que já se aproveitou do fato de conhecer um outro alguém em alguma repartição para conseguir aquela vaga quase impossível, atropelando  a fila de espera?

Quem vive em bairros populares sabe que mercadinhos, quitandas, padarias e outros comércios costumam vender sem disponibilizar a nota fiscal para seus clientes. Ou seja, sonegam impostos.

Mas esses mesmos comerciantes criticam as fraudes fiscais e pagamentos de propinas cometidos por grandes empresários.

Quem não conhece pelo menos um amigo que já subornou um policial para não ter seu carro ou moto apreendido por causa de alguma irregularidade?

A justificativa mais comum que se ouve é que eles aceitam o suborno, por que ganham mal. Imagine então o que um assalariado não deveria fazer.

Aliás, quem não sabe que a forma com a qual a polícia aborda um pobre na favela é completamente diferente daquela dispensada aos moradores dos bairros nobres?

Sim! No bairro nobre eles cumprem todas as exigências e determinações legais. Já nas comunidades miseráveis, invadem casas, agridem mulheres, crianças e idosos e atiram a esmo, pois sabem que se um pobre morrer terá sido um acidente.

O curioso é que a maioria deles são e vieram também das periferias.

Ficamos indignados com o número crescente de casos de violência contra as mulheres. Ficamos chocados quando idosos são vítimas agressões ou descobrimos que alguém está a maltratar animais.

Mas defendemos uma educação doméstica onde quando a capacidade de vencer pela argumentação falhar os pais devem ter o pleno direito de recorrer à violência.

Parece-me uma contradição pensar que mulheres, idosos e até animais devam ser protegidos de agressões físicas e verbais, ao passo que nossas crianças devam ficar tão vulneráveis.

Mas não para por aí.

No ambiente acadêmico quem de nós não conhece alguém que comprou o Trabalho de Conclusão de Curso, que não apresentou um trabalho plagiado ou colocou o nome num trabalho em grupo do qual nunca participou?

E tantas outras situações…

Mentir para o médico com objetivo de conseguir um atestado.

Dar “carteirada” mesmo sabendo que estava errado.

Denunciar falso abuso para ganhar a guarda dos filhos.

Criar falsas experiências em currículos para conseguir vantagem num processo seletivo.

Usar falsos atalhos para aumentar o valor da corrida de taxi.

Se ficarmos aqui mencionando, creio que passaríamos a eternidade citando nossas fraudes do cotidiano.

Mas, por que será que essa gente é assim, oportunista, prepotente, desonesta e por que não dizer maldosa?

A resposta é simples. Eles são você e eu. A única coisa que nos torna diferentes deles a ponto de acreditarmos que somos melhores são as oportunidades diante de nossos olhos.

Somos culpados por cada político ladrão. Pois os filhos que crescem observando os pais fraudarem declarações de imposto, fazerem “gatos” de água ou luz, usando e abusando de gratuidades sem precisar, seram os corruptos de amanhã.

Quando a criança na favela vê soldados ASSASSINAREM com oitenta tiros um homem que se dirigia com a família para um chá de bebê, e com o passar dos dias descobre que nenhuma punição lhes sobreveio, ele aprende que ser policial dá carta branca para fazer quase qualquer coisa.

Quando um adulto abusando da fragilidade e vulnerabilidade da criança impõe sua vontade ou pune um erro através da violência física ou verbal, ele está ensinando a esta criança que o mais forte deve se necessário agredir o mais frágil para resolver desentendimentos.

Depois criticaremos e puniremos agressores e agressoras que estarão nada mais que seguindo o exemplo que lhes demos.
Quando dizemos que queremos paz, que somos um país cristão (embora o Estado ainda seja laico), que cremos na conversão, na justiça divina e mais um monte de coisas bonitas que cristãos pregam…

Mas defendemos políticos que apoiam milícias, que não respeitam as diversidades e que embora mencionem deus em seus discursos, por outro lado incitam divisões, ódio racial e desprezam os miseráveis do país.

Quando dizemos que somos patriotas. Mas nos calamos diante de pessoas que estão abrindo nossas pernas para os estrangeiros virem nos estuprar explorando nosso petróleo a preço de banana, dominando nossos estratégicos bancos e aeroportos e se apoderando e usando como bem entender nossas terras.
Estamos criando uma nação de pessoas servis e hipócritas.
Aliás, se pararmos pra pensar, já faz muito tempo que somos as duas coisas. Portanto, já basta de culpar o PT por todas as desgraças desse nosso mundo chamado Brazil.

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