Uma gaivota foi encontrada por moradores, em uma praia de Peruíbe, com ferimentos graves em uma de suas pernas, causados por linhas, anzol e chumbinho, dias após um torneio de pesca realizado na cidade e incentivado pela Prefeitura de Peruíbe.
O animal precisou amputar a pata esquerda por conta do ferimento, Foto de Kaio Nunes/Instituto Biopesca
A gaivota machucada (Larus dominicanus) foi levada à Unidade de Estabilização do Instituto Biopesca, que fica em Praia Grande, onde passou por um atendimento veterinário.
Devido a gravidade da lesão, a pata esquerda do animal teve que ser amputada e, para evitar o contato direto com o solo, uma bota de neoprene foi colocada: “Além de isolar o ferimento, a bota também ajuda na locomoção nesse período pós operatório e ajuda na cicatrização. Posteriormente, esse curativo será retirado e o animal solto, já que eles se adaptam bem sem uma das patas”, disse o coordenador geral do Instituto, Rodrigo Del Rio Valle, em entrevista ao G1.
Pesca Esportiva
A Prefeitura de Peruíbe incentiva atividades de Pesca Esportiva na cidade. Quatro dias antes da gaivota ser encontrada, a cidade foi palco da 3ª edição da prova internacional “Masters Brasil Fishing Tournament”, com cerca de 200 competidores (100 duplas) inscritos, cuja iniciativa teve por finalidade o desenvolvimento da pesca desportiva voltada para todos os pescadores de praia e o incentivo da pesca de competição no Brasil com a captura de espécimes maiores.
Além deste evento citado, anualmente é realizado em Peruíbe o Torneio de Pesca Esportiva do Aramaçan.
Apesar da coincidência de datas, não está provado qualquer ligação da gaivota que perdeu a perna com a atividade de pesca esportiva, incentivado pelo governo municipal.
Peixes sofrem com o pesque e solte
Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, publicado na revista científica The Journal of Experimental Biology,mostrou que o anzol usado na captura cria um ferimento na boca dos peixes, prejudicando a sua alimentação e que compromete o sistema de alimentação por sucção, comum em muitas espécies como truta, salmão e robalo. “O sistema de alimentação por sucção é bastante similar com o qual usamos para beber líquido com canudinho. Se você faz um buraco do lado do canudo, ele não vai funcionar devidamente”, disse, Timothy Highan, professor de biologia e um dos autores do estudo.
O professor ainda declarou que o objetivo do estudo era descobrir qual o impacto sobre o peixe quando era pego usando um anzol e o resultado mostrou que a redução da capacidade do animal se alimentar pode gerar problemas para as populações futuras. No entanto, o pesquisador explica que outras pesquisas são necessárias para entender o impacto em maior escala: “este estudo enfatiza que a pesca esportiva não é tão simples como remover o anzol e ficar tudo bem, mas que é um processo complexo que deveria ser estudado mais detalhadamente”, disse Highan.
Resposta da Prefeitura
A Prefeitura de Peruíbe foi procurada pela reportagem e respondeu que não realiza os eventos de pesca: “A Prefeitura não realiza, a Prefeitura apoia. Quem realiza é a Federação Paulista de Pesca.”
“Sobre os benefícios, no último torneio tivemos mais de 350 pessoas entre pescadores e amantes do esporte de vários estados do país, inclusive com a presença de pescadores europeus, um portugueses e espanhóis (sic). Todos que vieram a nosso município com família, ficaram hospedados em nossa rede hoteleria.
Além de consumir no nosso comércio local, a pratica gerou renda. Estima-se que durante o período de quatro dias houve um consumo de cerca de 280 a 310 mil reais; entre hospedagem, alimentação, consumo de suvenis (sic), combustível e afins.
Além da projeção nacional e internacional da cidade como destino turístico de pesca esportiva. (sic)”
Texto e Reportagem: Márcio Ribeiro
Pesquisa e Foto da Gaivota Saudável: Márcio Ribeiro
Outras Fotos: Kaio Nunes / Instituto Biopesca
Contato: [email protected]
Fontes:
The Journal of Experimental Biology,: https://jeb.biologists.org/
SIC: Sic é usado em vários países e tem o mesmo objetivo, ou seja, mostrar ao leitor que foi “exatamente assim” que a palavra ou frase foi escrita pelo autor. Para indicar ao leitor que mesmo sabendo que o texto original está errado, ou soa estranho, ele pode ser transcrito, acompanhado logo em seguida pela palavra (sic)
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