Escrevo porque me faz bem

Nem mesmo quando criança ou adolescente eu sonhei ser um escritor famoso. Cursei jornalismo antes de letras porque eu desejava uma forma possível de viver da escrita. Mal sabia eu que o jornalismo chegaria ao estado atual, em que poucos privilegiados conseguem viver do ofício. Mas nunca imaginei que seria uma celebridade do mundo literário.

O jornalismo era, inclusive, uma forma de ter que escrever todos os dias. Afinal, eu entendi muito cedo que era preciso praticar. Ninguém nasce pronto. Ser uma celebridade literária nunca passou pela minha cabeça.

Dito isso, é preciso admitir que o complexo do impostor sempre me visita. Vez ou outra me questiono sobre minhas reais habilidades literárias. Será que eu realmente sei escrever? Ou será que essa é só uma mentira que eu conto para tornar a minha vida suportável?

Fracassei em praticamente tudo. Minha vida sempre foi uma narrativa irônica. Racionalmente eu sei disso, mas o emocional precisa ser bajulado. Não é fácil reconhecer que esforço e dedicação total não bastam.

Sempre me questiono se a minha necessidade de escrever não é apenas parte de um processo terapêutico. Algo semelhante ao ato de conversar com o analista, confessar para o padre ou desabafar com um amigo íntimo.

Essa semana a dúvida apareceu novamente. Resolvi aceitar que não tenho nenhuma habilidade especial para a escrita. Mesmo que eu treine durante toda a vida, jamais produzirei algo digno de sobreviver para além da minha existência.

E se isso for verdade? O que muda? Nada! Com exceção do meu ego ferido, tudo continua exatamente como antes. A minha relação com a escrita fica ainda mais estreita. Reconheço que escrevo porque isso me faz bem, escrevo porque preciso, escrevo porque isso me ajuda a manter a sanidade.

Sendo assim, não existe a pressão para escrever algo genial. Não existe a cobrança pela originalidade, pela sabedoria, pela obra prima. Existe apenas a necessidade de escrever. Porque isso me ajuda a organizar os pensamentos, a dar um sentido para os meus atos, a entender o que acontece no meu entorno.

A escrita se torna um prazer e deixa de ser uma obrigação. Semelhante à leitura quando realizada sem pressões acadêmicas.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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