Crônica: Os malvados lápis de cor nos pequenos dedos tristes

 

Se eu fosse um político honesto eu proibiria imediatamente em todo o país a fabricação de lápis de cor xexelento, vagabundo, desonesto e de péssima qualidade.

Você já parou para pensar no trauma que um material escolar destes pode causar em uma criança pobre?

Não? Pois é, andei pensando bastante nisso neste último final de semana e vou aqui contar para vocês o que eu acho.

No domingo, tirei o dia para ficar desenhando com a minha filha, de seis anos.

Fizemos aqueles desenhos convencionais que toda criança faz: O sol sorrindo, algumas árvores e uma casinha, com toda a alegria e leveza que a infância feliz nos dá. E lá fomos nós pintar.

Havia uma caixa de lápis de cor em casa, destes comprados na promoção. O amarelo dele não era tão amarelo assim. Era uma cor feia, sabe? Nem ouro e nem dourado. Tinha que fazer uma força danada pra cor ficar no papel. Era preciso pintar com raiva! E o verde? Nem a camisa do Palmeiras conseguia mostrar um verde tão ruim quanto aquele. E eu fui ficando nervoso, pois a pintura não ficava boa. Minha filha, calejada com estes materiais que prestam um desserviço à humanidade e totalmente ambientada ao mundo infantil, me acalmou dizendo assim: – “Calma pai, estes lápis são ruins mesmo. Pega o meu outro lá na caixinha e pode pintar com aqueles. Eles são melhores. Eu uso estes só pra brincar por que posso quebrar. Vai lá pai. Pega!”

E assim começou o meu devaneio: Quantas crianças se sentiram culpadas na infância por não desenharem bem? Quantas foram culpadas pelos desenhos ruins e perderam notas na escola, na voz gorda de alguma pobre professora de artes. Quantos traumas? Quantos sóis ofuscados, quantas casas desbotadas e quantos verdes sem vidas?

Ai, ai, ai, ai, ai. Logo eles que são tão pequeninos e ainda não tem noção de que o problema poderia ser o lápis. Logo eles que não têm força para reclamar.

Lembrei, imediatamente, que os riquinhos da minha sala possuíam os melhores desenhos, com os melhores traços, cores reais, com a leveza e a elegância de arrancar suspiros, elogios e “babação de ovo” por parte da professora, que olhava para a periferia da sala onde eu estava (sem saneamento, sem cultura e de pés rachados), com o mesmo olhar que o Donald Trump olha para ditador norte-coreano Kim Jong-Un, nos dias de hoje. Questionei comigo mesmo: Será que eu era ruim em artes por não ter os materiais adequados? Seria possível despertar em alguma criança o gosto nesta disciplina com materiais escolares ruins? Confesso que eu nunca levei jeito pra coisa mesmo e nem os melhores materiais do mundo me ajudariam a desenhar bem, mas com outras crianças o troço (ou traço) poderia ser diferente.

Foi preciso sofrer na pele com o lápis de cor para perceber o quão é importante fornecer materiais de qualidade para as nossas crianças.

Saindo do devaneio, terminamos o desenho e fixamos na parede – com a devida autorização da mamãe, é claro – e aproveitei o sol para caminhar com a minha pequena para observar borboletas, pássaros e outros bichos…

Autoria e Criação: Márcio Ribeiro

Criação do Desenho e Pintura: Larissa Muriel

Data: 17/09/17

Todos os direitos reservados – Setembro de 2017

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Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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