Contos dos Orixás

Heróis de uma Mitologia bela e ignorada

Contos dos Orixás, é um quadrinho nacional publicado de forma independente pelo próprio autor, Hugo Canuto através de financiamento coletivo no site Catarse em 2017, tendo superado os 700% de arrecadamento do valor previsto.

Este quadrinho lança mão dos deuses e lendas da cultura Iorubá em uma história recheada de ação, bons desenhos, cores vivas muito bem utilizadas e um serviço de divulgação deste politeísmo tão importante para a nossa história.

A HQ começa com a criação do universo do ponto de vista da mitologia Iorubá. Logo após esta introdução cosmológica, somos apresentados a Ajantala, um guerreiro ambicioso e extremamente maléfico que quer dominar o mundo. Após um massacre causado pelo exército do vilão, alguns poucos sobreviventes conseguem fugir e pedir ajuda ao personagem central da história: Xangô, o deus do trovão. Então o nosso herói parte juntamente com sua esposa Iansã (a deusa dos ventos), Exu (o guardião dos caminhos) e seus exércitos para impedir os planos de Ajantala. Deste ponto até o final são mais
108 páginas com batalhas, aparições de novos personagens, cidades sagradas e reviravoltas.

A arte da história é muito bonita, tendo o autor trabalhado como Arquiteto antes
de se aventurar pelas histórias em quadrinhos. Todo o traço da obra foi inspirado no estilo do grande Jack Kirby, artista que junto com Stan Lee criou diversos personagens da Marvel Comics e a semelhança no estilo impressiona.

Apesar dos desenhos serem muito bonitos, o que mais chama a atenção ao folhear a obra, são as cores. Utilizando de tons fortes e vivos, a pintura é muito bem feita e, apesar de intensa, não prejudica a narrativa gráfica.

Para quem gosta de mitologia é uma obra indispensável, principalmente por se tratar de fábulas ignoradas de um povo tão importante para a construção do nosso país. Somos acostumados a sempre consumir material sobre mitologia Nórdica, Grega e Hebraica, ver personagens como Thor, Odin, Hércules, Moisés e Jesus nos livros,filmes e quadrinhos, que nos esquecemos que existem heróis mitológicos em praticamente todas as civilizações e alguns deles com muitas semelhanças entre si.

Nesta edição, a narrativa que mostra os exércitos de Xangô partindo para a batalha lembra muito os exércitos de Asgard atravessando a ponte do arco íris, com Exu (guardião dos caminhos) fazendo as vezes do Heindall (guardião da ponte do arco íris)…

A construção dos personagens é outro ponto positivo neste quadrinho. O autor nos apresenta de forma fluida e natural a personalidade dos deuses. O Xangô, me lembrou muito o Capitão América com uma pitada do Thor (com direito a machado e tudo), e o Exu personagem poderoso, mas brincalhão e que gosta de pregar peças nas pessoas.

Um outro ponto positivo da edição, é apresentar heróis e personagens negros. Recentemente tivemos o filme “Pantera Negra” da Marvel Comics fazendo muito sucesso de crítica e público. Aqui nós temos heróis e heroínas poderosos, carismáticos divertidos e negros, o que em termos de representatividade é ótimo.

Em resumo, a história, juntamente com a narrativa são boas, os desenhos são bons, a pintura muito boa, os personagens são carismáticos e bem construídos. Apesar de ser uma edição única, deixa espaço para continuações, e em entrevistas o autor revelou que pretende lançar mais edições.

A edição conta com 120 páginas, capa cartão, miolo de papel couché fosco e capa cartonada. O preço de capa é de R$ 45,00 e quem perdeu no financiamento do Catarse, pode comprar direto no site do autor: WWW.hugocanuto.com .

Vou terminar com a primeira frase da história.

“No princípio de tudo, havia apenas a vastidão da noite… Então Olorum, a grande voz partiu a cabaça da existência.”

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


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