Começando a planejar a vida intelectual #PEDAblogBR

Quero me desenvolver intelectualmente, quero adquirir cultura, mas por onde devo começar?

Venho de família muito pobre. Entrei na escola aos sete anos de idade, mas já sabia ler nessa época. Nem preciso dizer que estudei em escola pública e que a educação que recebi sempre esteve muito a baixo do que eu gostaria. Até hoje tenho muitas deficiências. Sou um analfabeto matemático, nunca aprendi gramática e as poucas palavras que consigo escrever sem errar são resultado de horas e horas de leitura. Memória visual, acho que é assim que eles chamam.

É claro que a sede de conhecimento sempre existiu. Na minha infância, internet era coisa de ficção científica. Só nos restava correr para a biblioteca. Sou obrigado a dizer que, na pequena cidade em que eu morava, não existia biblioteca pública. Precisávamos nos virar com a da escola, mas ela era bem deficiente. Composta principalmente de livros didáticos defasados, aquela coleção era um desserviço à sociedade.

Outra opção eram as bancas de revista. O problema é que era preciso pagar para poder ler. O dinheiro era curto, então precisávamos escolher direito o que comprar. Eu escolhia, como quase todos os meus amigos, revistas de cultura geral, como era o caso da Superinteressante. Li quase toda a coleção de livros da série Vagalume. Eu costumava trocar os livros com algumas primas e amigos. Como não havia dinheiro para a compra de todos os volumes, os meus três exemplares eram emprestados para alguém que me emprestasse de volta algumas edições que eu ainda não tivesse lido. Era o compartilhamento pré-internet.

Por falta de orientação, eu lia o que podia de forma desordenada. Achava que essa era a maneira correta de sanar as minhas deficiências educacionais. Só muitos anos depois um professor me explicou que esse não era o caminho mais indicado. Esse mesmo professor usou a metáfora da construção da casa para me explicar o que eu deveria fazer: “Quando vamos construir uma casa, como procedemos? Compramos um tijolo e colocamos no lugar? Depois compramos outro tijolo para colocar ao lado desse? E se de repente percebermos que precisamos comprar um saco de cimento?”, perguntava ele.

A resposta é muito simples, para construir uma casa é preciso um planejamento mínimo. Ainda no exemplo da construção, é preciso assegurar o fluxo de material necessário. Se precisamos tomar essas medidas na hora de construir uma casa, será que não deveríamos ter o mesmo cuidado quando decidimos estruturar o nosso desenvolvimento intelectual? É preciso definir o terreno daquilo que será estudado, afinal, não é possível adquirir conhecimento sobre todas as áreas do conhecimento. Por isso, é preciso mapear corretamente a nossa área de estudo.

Isso não te impede de continuar lendo conteúdos que tratam de informação geral, não específica. Jornais, revistas, livros que despertaram o seu interesse, tudo isso continua fazendo parte da sua formação. Mas é preciso não se esquecer do que realmente te diz respeito:

  • Quais são as questões que te interessam?
  • Quais são as disciplinas que têm algo a ver com isso?

Comece lendo orelhas e índices de livros. Leia as listas bibliográficas indicadas. Assim você poderá traçar um mapa que servirá de plano de estudo para os próximos anos.

Mas se prepare, o caminho é árduo e solitário.

José Fagner Alves Santos

Este artigo faz parte da campanha #PEDAblogBR.

 

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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