Ato um – O início

Neste episódio, resolvi contar como se deu o início da minha percepção sobre as estruturas narrativas existentes em filmes produzidos em HollyWood. A ideia é que eu siga contando episódios semanais sobre autores de crítica literária, mas sempre com uma pegada de narrativa pessoal.

Por volta de 1996 minha mãe comprou um aparelho de videocassete. Graças à estabilização da economia criada pelo Plano Real, ela havia comprado – dois anos antes – um aparelho de TV com imagem colorida. Era uma Sharp de vinte polegadas, com controle remoto. Um luxo para a época. Numa era pré-internet, a televisão era a principal janela para o mundo. Ainda mais na cidade de Ipiaú, Sul da Bahia, no meio da Mata Atlântica.

Nós não tínhamos livrarias em Ipiaú. Havia três bancas de jornais nas quais comprávamos revistas com a intenção de saber o que acontecia pelo País. As revistas eram caras e nem toda publicação chegava às bancas municipais. Muito impresso chegava com certo atraso, mas era o que tínhamos na época.

O número de emissoras de TV que tínhamos acesso era muito limitado. Além da Globo e do SBT, havia a Bandeirantes e a extinta TV Manchete. Dificilmente esses quatro canais estavam no ar ao mesmo tempo.

Foi também no ano de 1996 que começamos a ter acesso ao sinal da TV Record. Essa emissora transmitia alguns seriados que eu só conhecia pelas reportagens que lia em revistas como a Wizard. Arquivo X, The Pretenders, Millennium eram parte do catálogo. Havia também as mais clássicas como Jornada nas Estrelas, Zorro e Perdidos no Espaço.

Para mim aquilo foi uma benção. Eu finalmente podia fugir dos programas de auditório do SBT e da Globo, além ter acesso aos seriados sobre os quais eu lia.

Mas eu comecei essa conversa aqui falando do videocassete que minha mãe havia comprado. Aquilo era mágico. Eu podia assistir ao filme na hora que eu quisesse e pudesse, não precisava ficar esperando o horário de transmissão. Além disso, era possível pausar o vídeo. Eu usava esse recurso para desenhar. Era muito difícil conseguir referências fotográficas na época. Se bem que, muita gente dizia que deixar o vídeo pausado estragava a fita. Se isso for verdade, eu estraguei muita fita.

De qualquer modo, fizemos cadastro nas locadoras que existiam espalhadas pela cidade e começamos nossa rotina de filmes nos finais de semana. A gente sempre pegava três fitas na sexta-feira. Porque se a gente pegasse dois filmes, seria preciso devolver no sábado. Se fossem três, só devolvíamos na segunda. E de quebra, locando três filmes a gente levava um quarto sem pagar nada.

Era preciso chegar na sexta-feira pela manhã para ter acesso às melhores opções. Depois disso, os melhores filmes já haviam sido locados e só sobravam os refugos.

A locação de cada fita custava, em média, três reais. Era preciso deixar os nove reais reservados para o final de semana. E olha que estou falando de uma época em que nove reais era dinheiro, mas era preciso investir também no entretenimento. Afinal, a cidade não oferecia muitas opções no final de semana.

Passou um tempo e eu já havia assistido a praticamente todas as opções de filmes ofertados pelas locadoras da cidade. Era preciso esperar os lançamentos. O problema é que os lançamentos começaram a me cansar. Eu comecei a perceber que os filmes eram, na maioria das vezes, muito parecidos. As comédias românticas eram todas muito iguais, os filmes de terror também. Os filmes de ação eram os piores. As estruturas dos roteiros eram tão parecidas que eu sabia como o filme ia terminar vendo apenas os primeiros dez minutos.

Foi aí que eu comecei a procurar filmes que tivessem uma proposta diferente, mas as locadoras da minha cidade não tinham muitas opções. Filmes de arte não faziam muito sucesso nas locadoras comerciais.

Alguns anos depois, eu descobri que havia uma estrutura narrativa estabelecida e que os roteiristas faziam uso dela à exaustão. Aquilo garantia sucesso de público, mesmo que nem sempre houvesse sucesso de crítica.

José Fagner Alves Santos

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Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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