A juventude é uma doença que passa

Não sei se é por necessidade de autoafirmação ou se por puro narcisismo, mas algumas pessoas passam pela vida com a única função de ser do contra. Não importa o que você está dizendo, quanto tempo estudou o assunto ou a quantidade de provas que tenha a seu favor, o pessoal que é do contra sempre dará um jeito de te confrontar. Quase sempre, forçando a argumentação para um ponto que não é aquele que você defendeu originalmente, te arrastando para uma discussão infrutífera e sem sentido.

Eu até gostaria de dizer que esse é um problema da juventude, mas a juventude é uma doença que passa – a não ser que você morra antes. A teimosia e a necessidade de ser do contra continuam em pessoas de 30, 40, 50 anos. O pior é que, a partir da terceira idade, as chances de que essa pessoa consiga mudar o seu jeito de ser começam a diminuir.

Teremos então um idoso teimoso e malcriado. O que muitas vezes não percebemos é que, essa pessoa sempre foi assim. A teimosia quase sempre é vista como qualidade nos jovens e defeito nos velhos. Pau que dá em chico, dá em Francisco, ao menos deveria ser assim.

Ter embasamento do que diz e não se calar diante do que está errado é louvável; teimar por pura arrogância juvenil, mesmo sabendo que não domina tão bem o assunto em questão, já é – paradoxalmente – demonstração de insegurança e de necessidade de autoafirmação.

Tenho tido a triste experiência de conviver com algumas pessoas assim. Tem a turma que quer me ensinar sobre jornalismo, discordando de cada afirmação que eu faço sobre o ofício; há também aqueles que desejam me ensinar literatura sem ao menos ter estudado um pouco sobre teoria literária. Esses acham que tudo se resume a gostar ou não gostar de determinado autor ou obra. Por último, mas não menos irritantes, existem os militantes políticos – de direita e de esquerda – que se mostram chateados por eu apontar incoerências comportamentais em seus ídolos. Como não endeuso ninguém, sou atacado e classificado como membro da vertente de oposição.

Um conhecido costumava dizer: “estou ficando velho, não besta”, faço minhas essas sábias palavras.

Nunca me iludi com a suposta genialidade dos mais jovens. Quem me conhece sabe que nunca fui dado a modismos ou comportamento de rebanho. Nem mesmo quando era jovem. A juventude foi uma doença que, em mim, passou muito cedo.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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