Um “poeta universal” que ganha vida no teatro

Foto Ricardo Brajterman 

Com 25 anos de carreira artística, marcada por atuações na TV, no teatro e no cinema, o ator, diretor e produtor Bruce Gomlevsky concedeu uma entrevista sobre a experiência de viver há 11 anos, nos palcos teatrais, um dos maiores artistas da música brasileira – Renato Russo –, considerado por ele um “poeta universal”, e como foi a ideia de criar um musical biográfico sobre o cantor, que lota os teatros em todas as apresentações. Bruce também pode ser visto nos cinemas vivendo o delegado Júlio César no filme “Polícia Federal: A Lei é para Todos”, que conta a história da Operação Lava Jato.

Como e quando surgiu a ideia de criação do musical sobre a biografia de Renato Russo?

Eu cresci ouvindo o Renato Russo, a Legião Urbana. Ele fez parte da minha formação como ser humano na adolescência. Entre 2004 e 2005, eu simplesmente “devorei” a obra biográfica Renato Russo – O Trovador Solitário, escrita pelo jornalista Arthur Dapieve, que me inspirou a fazer a peça. Como sempre fui fã do cantor e sempre ouvia suas músicas, cheguei à conclusão que a melhor forma de homenageá-lo seria por meio de um musical. Estreamos em 2006 e já estamos há 11 anos em cartaz. Fomos os precursores de musicais biográficos de artistas brasileiros, os quais não haviam até então. A peça já passou por mais de 40 cidades brasileiras e foi assistida por mais de 300 mil espectadores.

Como foi o processo de preparação para viver o personagem?

Foram dois anos de pesquisa e imersão total na obra do Renato. Entrevistamos os amigos, a família e os integrantes da banda. Eu acompanhei entrevistas, imagens, depoimentos e shows. Foi um mergulho no universo dele.

Apesar de ser um cantor das décadas de 80 e 90, hoje é possível ver muitos jovens interessados na trajetória de Renato Russo e em suas músicas. Qual o motivo desse interesse, na sua opinião?

O Renato é um grande poeta, suas letras são incontestáveis. Todas as gerações se identificam com sua escrita, ele é universal. Nos dias de hoje faz falta um cantor de rock com toda essa dimensão e cultura que ele possuía. Ele tinha referência, era um pensador. Acredito que esse seja um dos motivos para sua obra atrair gerações mais novas hoje. Inclusive o musical tem atraído cada vez mais jovens, como uma garotada de 12, 13, 14 anos, apaixonada pelo Renato, que conhece a letra do artista e canta todas as músicas durante o espetáculo.

As músicas de Renato Russo consagraram-se principalmente por proporcionar uma reflexão sobre o cenário político das décadas de 80 e 90. Passados mais de 25 anos, canções como “Que País é Este” poderiam ser perfeitamente aplicáveis no cenário em que vivemos. Como você pensa que o povo brasileiro está lidando com tantas deturpações políticas hoje? Há uma diferença das reivindicações do passado?

Existe uma apatia no ar, uma acomodação e uma polarização. Vivemos um mundo complicado. Mas é importante observar como as letras do Renato continuam atuais. Ele escreveu Que País É Este em 1979 e achava que a música ficaria obsoleta, por isso não gravou logo, somente no terceiro disco. E a música é atualíssima, um hino contra a corrupção, contra toda a sem-vergonhice que está aí. Músicas como Perfeição, por exemplo, também falam da situação do país. Ele tinha um olhar muito acurado sobre a nossa situação. Se pararmos para pensar, veremos que na verdade são 500 anos de roubo, corrupção e extorsão, desde que os portugueses invadiram o Brasil, por isso sua obra é atemporal.

Você tem uma vasta carreira artística com numerosas participações no teatro, na TV e no cinema. Onde prefere atuar? De todos os seus trabalhos, qual personagem mais lhe marcou?

São 25 anos de carreira. Eu gosto do ecletismo. Sou produtor, diretor, ator e tenho meu trabalho autoral como músico também. É difícil dizer hoje onde eu tenho mais prazer, mas acho que o teatro é o lugar onde eu venho para experimentar novos trabalhos, arriscar, vivenciar novos desafios, mas eu adoro poder atuar em vários campos artísticos diferentes. O Renato Russo é o meu papel mais marcante. Também estou participando do filme Polícia Federal: A Lei é para todos, vivendo um personagem muito importante que é o delegado da Polícia Federal Júlio César, com certeza, um marco na minha carreira do cinema.

Confira aqui a resenha de Renato Russo – O Musical 

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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