Um Limite Entre Nós

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

Uma cara de poucos amigos! Essa foi a expressão no rosto de Denzel Washington na noite da cerimônia do Oscar 2017, realizada em 26/02, assim que entregaram a estatueta de Melhor Ator para Casey Afleck, por sua atuação em Manchester à Beira-Mar. E não era para menos. Quem assistiu ao filme Um Limite Entre Nós, compreende o que estou falando, afinal o ator, que estava entre os indicados ao Oscar de Melhor Ator, deu um show de interpretação no longa, personificando o sucesso da trama.

Em Um Limite Entre Nós, Washington vive Troy, um lixeiro brutão na casa dos cinquenta, que mora na Pittsburgh da década de 50, e mostra em alguns momentos certa revolta e frustração pela sua condição social e por ter fracassado como jogador de beisebol quando jovem. Sentimentos que se refletem na forma como ele reprime seu filho Cory (Jovan Adepo), um garoto que sonha em ser jogador de beisebol.

A repressão ao garoto não é vista com bons olhos por Rose (Viola Davis), esposa de Troy que, apesar de não concordar com certas atitudes do marido – o que é perceptível em seu olhar – limita-se a cuidar da casa e do filho, sem questionar nada e fazendo de tudo para agradar ao esposo. O modo rude do lixeiro também se reflete na forma como ele lida com seu filho mais velho (Russell Hornsby), de um casamento anterior, que vez ou outra lhe pede dinheiro emprestado para se bancar, apesar de já ter ultrapassado a faixa dos 30 e morar com a esposa.

Se a princípio o longa nos passa a ideia que o cerne de sua história é o preconceito sofrido contra os negros na época – materializando-se no impedimento imposto pelo pai ao seu filho de jogar beisebol –, logo o filme traça outros caminhos e atinge seu auge com a excepcional atuação de Viola Davis e Denzel Washington, especialmente no momento em que seus personagens enfrentam uma dura crise no relacionamento.

Dúvidas, rotina, traição, mentiras: todos estes atributos que nunca saem de moda quando o assunto é crise conjugal são muito bem explorados em cena e refletem quanto o ser humano é capaz de doar-se inteiramente ao outro, abrindo mão de seus gostos e até da felicidade, em prol da felicidade alheia.

O longa aborda não somente o preconceito racial, mas fortemente o preconceito machista tão pertinente na época – mas que ainda deixa grandes resquícios hoje – considerando a mulher como ser submisso, cuja obrigação era zelar pelo lar e pela família.

Viola Davis e Denzel Washington estão na sintonia perfeita, especialmente nos momentos de explosão de seus personagens. Nos envolvemos profundamente com eles, somente pela atuação dos dois. Ao menos Viola ganhou o Oscar mais que merecido de Melhor Atriz Coadjuvante.

Denzel Washington também é o diretor da produção, que é baseada numa peça teatral chamada Fences (Cercas) – nome original do filme –, escrito por August Wilson e que foi encenada por ele e Viola na década de 80, garantindo aos dois atores o prêmio Tony – o Oscar do teatro. A constante presença de diálogos extensivos reforça o aspecto teatral da trama e exalta também o talento de Washington, que dispara palavras em timing e fôlego perfeitos.

 

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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