Rock In Rio – O Musical

Baseado num dos maiores festivais de música realizados no Brasil, o musical Rock in Rio – O Musical conta um pouco da história do evento e do contexto político em que estava inserido, mas se atém principalmente a mostrar as músicas dos grandes cantores brasileiros e internacionais que fizeram sucesso e continuam a ter grande repercussão entre as diversas gerações, sendo idolatradas por todas elas.
A trama se foca na história fictícia de Aleph, um jovem rapaz que decide ficar mudo após a morte de seu pai e só se conecta com o mundo através da música, para desespero de sua mãe (Lucinha Lins), que já enfrentou 15 anos sem ouvir uma sílaba do filho e quer convencê-lo a falar a todo o custo.  Além disso, Aleph (Hugo Bonemer) é extremamente tímido e passa a maior parte do tempo conectado ao mundo musical através de seus fones de ouvido.
A situação começa a mudar um pouco para o rapaz quando ele conhece Sofia (Yasmin Gomlevsky), filha de um empresário musical (Cláudio Lins) que irá produzir a primeira versão do Rock in Rio no Brasil, e seu encantamento pela garota faz com que ele perca um pouco da timidez e consiga até mesmo expressar algumas palavras e cantar em voz alta. Enquanto a garota ajuda o protagonista a se tornar alguém mais comunicativo, este, por sua vez, desperta na nova amiga um amor pela música, já que Sofia só gostava de falar e mal podia ouvir alguém cantando desde o desaparecimento de sua mãe, que ela acreditava ser culpa da música.
Na abertura do espetáculo podemos ver as representações de diversos ícones musicais, como Rita Lee, Cazuza, Ozzy Osbourne, Axl Rose, Freddie Mercury, Stevie Wonder e Britney Spears, entre outros, cantando a música tema do festival. A cena de abertura cria uma empatia na plateia logo de início, permitindo que ela se envolva totalmente com esta superprodução rapidamente – afinal, quando a peça usa de recursos cênicos extremamente atraentes para os espectadores se conectarem a ela logo de início, o espetáculo tem tudo para crescer em cena em conjunto com a plateia.
 
E assim acontece neste musical, cuja empatia criada no começo cresce gradativamente com o desenrolar da trama. Tanto em termos de cenografia quanto coreografia, Rock In Rio – O Musical é extremamente detalhista e retrata muito bem toda a mistura de estilos musicais, que foi ganhando força num festival que, a princípio, focava nos astros do rock.
Um dos momentos mais deslumbrantes da peça ocorre justamente na reprodução desta mescla de estilos, ao fazer um compacto por diversos sucessos nacionais e internacionais incluindo rock, pop, axé, forró, entre outros de modo intenso e instantâneo, ao mesmo tempo criando uma imensa vontade de dançar e cantar junto com o elenco. Pincela a apresentação também alguns costumes, como a moda vigente e alguns jargões de época.
 
Apesar de ter uma identidade completamente jovial, o espetáculo conquista todas as gerações por trazer os diversos sucessos musicais que transitaram entre 1985 (quando ocorreu a primeira edição do Rock In Rio) e hoje, como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Freedom”, “Tempo Perdido”, “Será”, “Ovelha Negra”, “Pessoa Nefasta” e “Fear of the Dark” despertando, certamente, boas lembranças em quem já passou pelos tempos dos primeiros festivais e, principalmente, participou deles, e também chamando os mais jovens para curtir sucessos que encantaram e encantam a todos, face à sua inefável musicalidade.
 
Todas as canções são entoadas de modo tão profundo, acompanhadas de brilhantes interpretações e coreografias crescendo grandiosamente a cada nova troca cenográfica, que chegam até mesmo a ser maiores do que a própria história da trama em si, cuja simplicidade se ofusca por trás da reprodução do festival que, por si só, toma conta da cena.
O ator Hugo Bonemer, que faz o protagonista da trama, por exemplo, está muito bem em seu papel do rapaz tímido, mas passa por uma explosão cênica instantânea em todos os momentos em que canta, tamanha a intensidade interpretativa que ele confere para cada estrofe, cantado e levando a plateia para o cenário descrito na letra da música. A atriz Yasmin Gomlevsky também se destaca pelo seu vozeirão na entonação das canções.
Outros atores como Lucinha Lins, Ícaro Silva (que se destaca no papel de amigo de Alef) e Luiz Pacini (que faz o dono de uma loja de discos) também demonstram seu talento musical como cantores solo.

Com direção de Delia Fischer e João Fonseca, o musical ainda usa de ótimos recursos para, por exemplo, promover um diálogo apenas com as letras de músicas já conhecidas. Rock In Rio tem três horas de duração que passam quase despercebidas pela plateia, tamanho o envolvimento criado por toda a superprodução.

Este é mais um musical totalmente brasileiro que faz sucesso no país. Diante do repertório de produções da Broadway que ganham versão nacional, o crescimento do número de musicais criados aqui como Tim Maia – Vale Tudo, o musical e Milton Nascimento – Nada Será como Antes, só reforça a capacidade do país em também elaborar espetáculos baseados em grandes tesouros nacionais, em especial aqueles baseados na nossa própria cultura.

 
Por Mariana da Cruz Mascarenhas

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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