Olhar caiçara: Você conhece um caiçara?

As pessoas sabem o que é ser caiçara? Essa pergunta esteve na minha cabeça desde a época do Orkut ( que acabou em 2014)  quando li comentários nas comunidades que traziam o seguinte conteúdo: O que é ser um caiçara? As dúvidas estavam comigo desde aquela época, e após estudar em Santos e conversar com as pessoas de lá e com um tal de “Olhar Caiçara”  exibido pela  TV Tribuna, resolvi botar um pouco disso pra fora.

Para alguns da antiga comunidade, ser caiçara era olhar o mar na Ponta da Praia ou comer um pastel na banquinha de fulano de tal. Olhar o Porto ou andar pelos canais da cidade. Declarações que geraram polêmicas com caiçaras do Litoral sul de SP, do Rio de Janeiro e também com outros mais letrados.

O CD intitulado “Música popular caiçara”, lançado em 2012, pela banda santista Charlie Brown Jr, incomodou e direcionou quem pesquisava “fandango”, “passadinho” e outras manifestações caiçaras para a banda liderada por Chorão (1970-2013), ofuscando, na época, quem lutava para manter as tradições e a cultura caiçara vivas.

Outra polêmica que ainda dá o que falar é o dia 15 de março, quando se comemora o Dia do Caiçara. Mais de 20 comunidades caiçaras criaram um manifesto repudiando a data, alegando desrespeito às tradições. Veja um trecho:

“As revisões se fazem necessárias devido ao desrespeito ocorrido à nossa cultura, uma vez que a data não nos representa, tendo em vista as leis estabelecerem um período de comemoração que coincide com a Quaresma. A Quaresma, trata-se de um período em que a cultura tradicional impõe algumas restrições quanto à realização de alguns dos costumes relacionados ao mar e ao mato, a alimentação, caça e pesca, e mesmo quanto ao Fandango Caiçara, que é reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil, não acontece durante estes dias, sendo realizado somente no período entre a páscoa e o carnaval”.

A falta de informação pode ser um causador de problemas. É importante ler, se informar e entender o que é uma cultura para poder respeitar e preservar. Vejamos o que disse o professor Antonio Carlos Diegues, publicado no Jornal A Tribuna, em 2013:

“O termo caiçara se aplica às comunidades de pescadores e lavradores nascidos em um território que compreende do litoral paranaense até o sul do Rio de Janeiro, com o modo de vida baseado na associação da pequena agricultura de mandioca e arroz para subsistência e a pesca artesanal. O que faz o caiçara são essas atividades, além do seu modo de falar, porque ele tem uma espécie de dialeto que vem do português antigo, do tempo da colonização. Hoje não passam de 80 mil caiçaras, um número muito baixo em relação ao que eram antes. É um terço do que tinha no começo do século 20. Eles foram muito massacrados”.

Este artigo não foi criado para dizer quem está errado ou certo, mas para fazer as pessoas refletirem sobre o assunto. Quem sabe, fazer a pergunta que há tanto tempo aflige a humanidade: Quem sou eu?

Entendemos que qualquer pessoa tem o direito de se autodeclarar caiçara, se ele acha que é assim ou se cresceu acreditando nisso. É um direito dela e isto também deve ser respeitado.

E você? Se identifica como um caiçara? Já parou para pensar a respeito? O que é ser um caiçara para você?

Texto e Autoria: Márcio Ribeiro

Foto: Márcio Ribeiro*

Contato: [email protected]

*Márcio Ribeiro é Jornalista (UniSantos), Monitor Ambiental (Instituto Florestal), Técnico em Turismo (Etec Centro Paula Souza), Técnico em Lazer e Recreação (Senac) e filho de caiçaras .

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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