Mar avança, destrói restinga e ameaça casas na Vila de Barra do Una
Márcio Ribeiro
O rio da Barra do Una (Peruíbe/SP) está com o seu curso cada vez mais alterado e a mudança está ameaçando casas e preocupando os moradores..
Essa mudança no curso do rio está acompanhada com a aumento do nível do mar no local e vem destruindo as dunas e restinga que protegem a vila. Pra quem conhece a Barra, o fato é notório. Para quem não conhece, é possível ver árvores mortas, galhos secos, troncos espalhados e novos barrancos formados pelo avanço do mar. Tem barranco que está chegando a quase um metro de altura.
O mar avançou de tal maneira que chegou à rua Beira Mar, está bem pertinho das casas que ficam para o lado do rio e pode estar formando uma nova foz, veja no mapa um comparativo de como era em 2008 e com a foto mais atual de 2022:
Não é de agora que esta mudança acontece…
De acordo com alguns estudos, foi pelas mãos do homem que a transformação começou, quando modificou o curso original do rio, ainda na década de 1950. Desde então, o rio não é mais o mesmo.
Veja como era o curso original do rio. Veja também o local onde fizeram o “canal do furado” para encurtar o tempo de viagem.
Após a mudança do rio, o trecho de terra que se ligava à Praia do Una virou a Ilha do Ameixal, que posteriormente passou a ser protegida por lei.
O rio começou a assorear e a navegação passou a ser prejudicada, atrasando o desenvolvimento da região, mas em contrapartida favorecendo a criação da Jureia, de certa forma.
Há registros de barcos de médio porte que subiam o rio. Tem também o relato dos moradores de que o local recebia embarcações de diversas partes, como de Itanhaém, Santos e da região sul do país, entre outros.
Com o canal do furado, Iguape pode ter perdido um pedacinho do seu território, cuja divisa com Peruíbe é baseada no trajeto do rio.
Hoje, alguns moradores tradicionais e que bem lembram da história, dizem que o rio só está buscando o espaço que um dia já foi dele.
“Lembro que antes do furado, meus pais pegavam a canoa, arrastavam pelo estreito trecho de terra onde hoje é o furado e saiam na outra volta do rio, para encurtar a distância.”
A reportagem ouviu a opinião de dois biólogos para tentar entender o que está acontecendo e os dois apontaram que as mudanças climáticas podem ter influenciado a transformação da paisagem local.
“Na década de 1960 a mudança foi antrópica, mas o que está acontecendo atualmente tem a ver com as mudanças climáticas”
-Tiago Ribeiro, biólogo e pesquisador de doutorado
“Existe o movimento normal do rio, mas temos que lembrar que tudo o que é normal está mais potencializado pelas mudanças climáticas”
-Bruno Lima, biólogo
Veja o vídeo atual:
A reportagem procurou os responsáveis pela RDS de Barra do Una para saber se há algum estudo ou acompanhamento junto aos moradores e eles enviaram a seguinte nota:
“A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) informa que, por meio do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), monitora o processo erosivo, que decorre por um fenômeno natural, na região de Barra do Una, junto à comunidade e à Fundação Florestal (FF), por se tratar de uma Unidade de Conservação (UC).”
-Comunicação / Semil
Por se tratar de um bairro de Peruíbe, a reportagem tentou contato com a Prefeitura local, por meio da Assessoria de Imprensa e também com o prefeito municipal, mas até o fechamento desta reportagem não foi dada qualquer atenção aos questionamentos dos contribuintes municipais.
Texto e Reportagem: Márcio Ribeiro
Colaboração: Tiago Ribeiro
Fonte /Citação: Consequências Ambientais e Geográficas da Alteração no Curso do Rio Comprido, Iguape/SP. Claudio de Moura, Manoel Messias dos Santos, Luiz Carlos Libório e Gláucia Cortez Ramos de Paula
Imagens: Google Earth / Márcio Ribeiro
Vídeo e Foto: Márcio Ribeiro
Contato: [email protected]
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Sobre o autor
Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."
Parabéns. Muito bom este alerta.
Márcio,eu sei que não é o estilo nem o propósito da reportagem, mas seria legal pedir à Fundação Florestal cópia ou acesso aos relatórios de monitoramento. Aí, estaria completa a informação.