Fatos são diferentes de opiniões, mas só bons leitores sabem disso

Como explicar para uma geração intoxicada de redes sociais que existe um abismo entre fatos e opiniões? Como explicar que é preciso viver e experienciar?

 

Nos últimos anos se tornou muito comum eu ter que explicar para algumas pessoas do meu círculo social mais próximo que, jornalista não passa o dia todo na frente do computador. Na verdade, sentar-se em frente ao computador para poder redigir a matéria é uma das últimas partes do processo. Ao que parece, a turma mais jovem acredita que os repórteres vivem o tempo todo navegando nas redes sociais, buscando sobre o que escrever. Lugar de jornalista, já dizia um velho ditado, é na rua.

Não duvido que esse tipo de personagem (que passa o dia em frente à tela) realmente exista, mas não creio que essa figura pudesse ser chamada de jornalista. Menos ainda de repórter. Mas, sigamos em frente. O que acontece é que, o público que acompanha jornal e que tem ideia do que faz um jornalista está envelhecendo.

Os jovens trocaram os jornais e revistas pelas redes sociais. E não venha me dizer que não se faz mais jornalismo como antigamente. Revistas como a piaui, a Quatro Cinco Um, a Serrote e tantas outras continuam no mercado. Sites como o Nexo e a Agência Pública continuam realizando um trabalho fantástico. A Superinteressante segue investindo pesado nos gráficos e infográficos, sem falar que tem valor de assinatura irrisório.   Lutam bravamente para fechar as contas ao final de cada mês e persistem quixotescamente, como a planta que teima em crescer no meio do concreto.

Recentemente tive que desistir do trabalho jornalístico. A realidade econômica é agressiva e a nossa idade biológica não retrocede. Chega um ponto em que precisamos pensar nos familiares, na nossa aposentadoria, na qualidade de vida. No entanto, confesso sentir falta da redação, da correria da reportagem, da realização narcísica de ver meu nome impresso na página, de concorrer com os colegas para ver quem escreve o melhor texto, de crer na ilusão de que estou contribuindo com a sociedade.

E é diante desse quadro que leio a respeito do relatório divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde consta que 67% dos estudantes brasileiros com 15 anos são incapazes de diferenciar opinião de fato (v. 67% dos estudantes de 15 anos do Brasil não sabem diferenciar fatos de opiniões, afirma relatório da OCDE). Não é de se espantar. Longe de mim querer fazer discurso a respeito dos malefícios das redes sociais, mas é importante que estejamos atentos para as mudanças comportamentais.  Toda ação promove uma reação. Não sei como estaremos daqui a 10 ou 15 anos, mas espero que já tenhamos encontrado um meio termo.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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