Doeu dos dois lados

Recebi a ligação de um amigo bolsonarista. Ele queria saber se meu último post era uma mensagem para à sua pessoa. Após 32 minutos da primeira ligação, outro amigo ligou. Esse era petista. Também queria saber se eu estava me referindo a ele. Ao longo da tarde, recebi nove ligações. A dúvida era sempre a mesma. Todos achavam que era uma indireta, uma mensagem pessoal.

Bem, não era mensagem pessoal para ninguém, tampouco era indireta. Mas direto do que aquilo é impossível. Sou obrigado a repetir aqui o argumento central: todos os lados acusam a imprensa de perseguição. A imprensa realmente possui muitas falhas, mas se ela todos os lados reclamam de perseguição, então estamos no caminho certo.

Jornalismo é o ato de trazer a público o que alguém quer esconder. Se esse alguém é de direita, de esquerda, de centro, de cima, de baixo ou de qualquer outro lado, pouco importa. Quando o jornalismo passa a falar bem deixa de ser jornalismo, vira publicidade.

Reconheço que boa parte da imprensa está corrompida. Reconheço que a imprensa também precisa ser cobrada, melhorada, aperfeiçoada. Mas atacar a imprensa com o intuito de destruí-la não é a solução. Se está ruim com ela, seria muito pior sem. Não acho que isso sirva de consolo. Muito precisa ser melhorado, isso é um fato. Mas o mesmo pau que bate em Chico, bate em Francisco.

Além do mais, a pluralidade de veículos permite que tenhamos diferentes pontos de vista, com diferentes recortes. Aquilo que uma emissora de TV não mostrar, sua concorrente fará questão de trazer a público. O mesmo pode ser dito de emissoras de rádio, revistas, jornais.

Não se iluda. Não importa para qual partido você vote, jogar você contra a imprensa será sempre uma tática para diminuir a fiscalização. O cidadão comum não tem tempo, nem paciência, para ficar no pé dos políticos. Essa é a função do jornalista. Se você acha que é melhor se informar pelas redes sociais, boa sorte.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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