Cazuza – Pro dia nascer feliz

“Exagerado / Jogado aos teus pés / Eu sou mesmo exagerado / Adoro um amor inventado”: seja no chuveiro, na cozinha, no quarto, não importa onde, quem nunca se pegou cantando esta letra em algum lugar? E não somente esta, mas muitas outras como “Brasil / Mostra tua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim” ou ainda “A tua piscina está cheia de ratos / Tuas ideias não correspondem aos fatos”. Certamente você deve ter acabado de ler estas letras já com o ritmo da música em sua cabeça, ou ainda cantando-as mesmo. Este é mais um sinal de que elas se eternizaram na mente e nos corações de milhões de brasileiros, assim como seu autor: o grande compositor e cantor Cazuza.
Falecido em julho de 1990, aos 32 anos de idade, vítima da AIDS, Cazuza influenciou gerações e continua influenciando até hoje não só com a riqueza de suas letras como também pelo jeito rebelde e polêmico de ser. Considerado um dos maiores compositores da música brasileira, ele conquistou inúmeros fãs, sendo que muitos surgiram e continuam surgindo mesmo após sua morte, diante do legado deixado por ele não só para a música como para a cultura de uma forma geral, já que, além de cantor e compositor, Cazuza foi poeta e escritor.
 
Por isso, mesmo após sua morte, suas músicas continuam sendo tocadas repetidas vezes e sua biografia retratada em livros, filme e agora também em peça teatral. Desde o dia 18 de julho de 2014, o palco do Teatro Procópio Ferreira recebe o musical Cazuza – Pro dia nascer feliz.
 
Com 170 minutos de duração, o espetáculo narra a trajetória de Cazuza – o papel costuma ser apresentado pelo ator Emílio Dantas, mas neste dia (6/9) foi apresentado pelo ator Bruno Narchi, que faz o protagonista em algumas sessões – desde o momento em que seu talento para a música começa a se revelar na formação da banda Barão Vermelho, passando pelo affair com Ney Matogrosso (Fabiano Medeiros), seu grande estouro como artista solo, até o momento em que ele descobre ser portador do vírus da AIDS e morre algum tempo depois.
Durante o espetáculo, a personagem Lucinha Araújo (Susana Ribeiro), mãe de Cazuza, interage diretamente com o público e os demais personagens ao mesmo tempo, narrando o que acontece com o filho, enquanto as cenas se desenrolam, e contracenando com o restante do elenco.
O musical leva a plateia a viajar no tempo e a reviver  ou conhecer pela primeira vez  – as diferentes fases da vida do protagonista, deixando-se levar pelas alegrias, rebeldias e tristezas sofridas por Cazuza. Prepare-se para alguns momentos do espetáculo que prometem fortes emoções, principalmente quando o artista começa a sofrer as complicações patológicas da AIDS.
Dirigido por João Fonseca, o espetáculo não investe muito em cenário, mas traz um elenco de peso que faz um verdadeiro show no palco. Não há como não elogiar a atuação de Bruno Narchi, intérprete de Cazuza, que parece trazer o verdadeiro artista para o Teatro Procópio Ferreira. Algumas cenas chegam a ser simplesmente arrepiantes pela similaridade do ator com o verdadeiro Cazuza, tanto no figurino como na atuação.

Do começo ao fim da peça, Narchi faz um trabalho cênico espetacular e supera seus limites nas atuações mais difíceis, que exigem todo o cuidado para não se extrapolarem, e não se extrapolam, como o gradativo desgaste físico de Cazuza, a medida que a AIDS toma conta dele. Narchi arranca lágrimas dos espectadores, fazendo-os sofrer junto com seu personagem e o de seus pais, que permaneceram ao lado do filho até o fim.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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