A METAMORFOSE EM ITANHAÉM E NO MUNDO

“Todos nós sabemos que a lagarta irá se metamorfosear numa borboleta. Mas será que ela sabe disso?” (Ulrich Beck, “A metamorfose do mundo”, 2008, p.31)

Itanhaém, lugar dos indígenas na Mata Atlântica, povoação do período colonial, assim como todos os países, está vivendo a terceira Guerra Mundial. Uma guerra sem armas ou bomba atômica, mas com os desafios da ciência. Uma pandemia mundial, não é como uma epidemia de piolho, ou de “bicho geográfico” na praia. A única arma que temos é ficar em casa, evitar a disseminação do vírus. O que será de todos nós daqui a alguns meses, não sabemos, ninguém sabe.

Como escreve o sociólogo alemão Ulrich Beck:(…) Metamorfose é um processo em processo. Não conhecemos o fim – talvez não haja fim. (…)(Ulrich Beck, 2008, p.155). O mundo está em metamorfose, este processo não começou agora, provavelmente está no ápice. De qualquer modo, temos que usar o aplicativo SERENIDADE diariamente.

Quando se fala em evitar aglomerações, basta juntar 8 pessoas, ou dos espaços fechados com ar-condicionado, produtos do século XX, a tecnologia, assim como tudo tem o lado positivo e negativo. Manter as janelas abertas, ambientes arejados e limpos, coisas que vovó sempre fazia… são soluções naturais, econômicas, simples, benéficas para a saúde de todos. Nenhuma novidade, higiene em casa e fora de casa. Nas praias evitar muitas pessoas, preservar a natureza, não maltratar os animais da fauna, nem mesmo destruir a flora, ao contrário, vamos permitir a reprodução das corujas, dos vagalumes, disseminar o jundú, colaborar para limpar nas dunas que nos restam os pedaços de embalagens recicláveis que lá estão e depois com as ressacas vai para o mar matando animais marinhos, vamos desintoxicar as praias, permitir a recuperação do ecossistema, sem agressividade com o próximo.

Mudança climática, é consequência das ações do homem, pois em duas semanas com menor poluição, os pássaros estão mais livres. Nas metrópoles, o ar está mais limpo. As notícias do mês de fevereiro estão esquecidas, como os muitos alagamentos, deslizamentos das encostas da Serra do Mar, quais as causas dos desastres? Em vez de colocar a culpa nas mudanças climáticas, que tal observar se as áreas onde ocorrem os deslizamentos são passíveis de ocupação humana; ou então, verificar se os alagamentos são áreas de várzea, área natural da ocupação das cheias dos rios. Quais foram as ações das políticas públicas para a habitação popular no país nas últimas décadas?

O momento é de reflexão. As pesquisas científicas são feitas para serem utilizadas no mundo real. Quando o médico recomenda repouso, pacientes – de um modo geral – atendem. Porém a medicina é uma das ciências. Há outras ciências, incluindo as de a prevenção dos acidentes urbanos. Implantar saneamento básico, abastecimento de água potável, prover os equipamentos básicos para as comunidades, fornecer transporte público de pequena, média e longa distância com qualidade (ferrovias), esses itens são parte essencial do planejamento de uma cidade, da ciência urbana, que os técnicos profissionais da arquitetura e urbanismo, das engenharias, praticam. Porém, depende das decisões políticas. Quanto dinheiro está sendo investido no planejamento urbano das cidades brasileiras? Quanto dinheiro público tem sido devolvido aos cofres por uso inadequado, para benefício individual de alguns políticos? Quanto vem sendo investido em Educação, Cultura, Saúde (saneamento básico, infraestrutura básica para cidades higiênicas)?

Estamos todos em casa, no mundo todo. Tempo para refletir, para introspecção, para reavaliar as ações do dia a dia, estamos como as lagartas, que irão se tornar borboletas, não temos consciência ainda disso, faz parte da consciência coletiva.

DRA. REGINA HELENA VIEIRA SANTOS

 ARQUITETA e URBANISTA

 Itanhaém, abril de 2020.

 

Sobre o autor

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Doutora, na área de História e Fundamentos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo / FAU-USP; em parceria com o Dipartimento di Architettura da Università degli studi di Firenze-Italia / DiDA-UniFI. (2013-2017). Mestre na área de História e Fundamentos em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo / FAU-USP (2005-2008). Especialização em desenho e Gestão do Território Municipal, objeto de estudo Município de Itanhaém; PUC-CAMPINAS, 1997/1998. Cursou como extend student na School of Fine Arts da San Diego State University / SDSU California, EUA, 1994-1996. Concluiu a graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Santos / FAUS (1989-1994). Professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FIAM-FAAM-FMU Centro Universitário. (2009-2019) Atuou como professora colaboradora na disciplina de Laboratório de Restauro do Dipartimento di Architettura na Università degli Studi di Firenze em 2016/2017. Atualmente é pesquisadora e colabora como professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Atua como arquiteta efetiva no Departamento do Patrimônio Histórico - PMSP/São Paulo, Museu da Cidade de São Paulo-MCSP. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Restauro de Arquitetura. Membro do ICOMOS. Associada ao Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB/SP. CAU n. A22542-8.


4 Replies to “A METAMORFOSE EM ITANHAÉM E NO MUNDO”

    • Regina Helena

      Caro Osvaldo, obrigada pelo apoio!
      Disponível os opúsculos com um breve histórico e um pouco da arquitetura da Igreja Matriz Santana e do Conjunto Arquitetônico Igreja e Convento Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.

  1. Cristina Fraga

    Sim….mas não podemos esquecer de cobrar as responsabilidades da sociedade civil também. Há muitos em situações de vulnerabilidade, há muitas vítimas das situações?…há sim. Mas há mulheres gerando 4, 5 filhos sem a menor responsabilidade sobre isso (o ECA, Estatuto da criança e do adolescente) tem que ser cumprido por todos os envolvidos, sem eximir também os homens desta responsabilidade.

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