A Invenção de Hugo Cabret

Com cenografia, montagem e roteiro simplesmente impecáveis, A invenção de Hugo Cabret justifica plenamente suas 11 indicações ao Oscar – incluindo melhor filme, roteiro adaptado e direção (Martin Scorcese). E não podia ser diferente, já que estamos falando de um dos mais renomados diretores em decupagem cenográfica (que sabe concretizar o roteiro na filmagem), o Scorcese, que nos leva para o mundo do pequeno Hugo (Asa Butterfield) lançando mão das diversas variações e inovações com ângulos de filmagem e sucessão de planos que nos levam a uma viagem pela história – sob o ponto de vista de como o diretor a conta.

Estamos em Paris, na década de 30, em uma estação de trem, onde acompanharemos toda a trajetória de Hugo Cabret, um menino órfão que, após perder seu pai (Jude Law) em um incêndio, vai para a estação, onde ele se instala no pavimento de relógios, os quais ele fica responsável por arrumar. Sustentando-se à base de pequenos furtos que ele realiza no local, o pequeno Hugo vive se escondendo de um inspetor manco (Sacha Baron Cohen) cuja paranoia é mandar os meninos órfãos que encontra para o orfanato.

A produção foca as diversas aventuras vividas por Hugo, que está à procura de desvendar um grande enigma: trata-se de uma mensagem revelada em desenho por um robô, que seu pai havia achado em um museu e ele praticamente consertara.

George (Ben Kinsley), um senhor que possui uma loja na estação de trem, logo na abertura do filme, confisca um caderno do menino por se sentir incomodado com o que vê nele: uma série de desenhos e esquemas sobre como construir o robô achado pelo pai de Hugo. De forma quase acidental, o protagonista torna-se amigo da afilhada de George: uma simpática e inteligente menina (Chloë Grace Moretz) que, disposta a encarar uma aventura, o ajuda e faz uma série de descobertas que envolvem os primeiros filmes da história do cinema.

No desenrolar da trama todas as pistas vão sendo desvendadas e, à medida que os fatores se encaixam, as crianças, e também os espectadores, vão se envolvendo e descobrindo que o aborrecido George já foi muito mais do que um simples vendedor e, inclusive, teve grande relevância para toda a humanidade.

Scorcese coloca o público dentro da cabeça de Hugo através de um cenário dotado de cores fortes e expressionistas e personagens que dialogam com o protagonista e a câmera ao mesmo tempo, nos colocando no lugar do pequeno órfão e nos fazendo viver o personagem em primeira pessoa. Imagens deslumbrantes de Paris nos levam a viajar e imergir nos telões, principalmente por se tratar de um filme rodado em 3D, que soube usar adequadamente este recurso durante toda a trama.

A Invenção de Hugo Cabret nos faz voltar ao tempo e relembrar – ou ver pela primeira vez – os primeiros filmes da humanidade, como A Chegada do Trem na Estação, primeiro filme apresentado ao mundo pelos irmãos Lumière, sem contar ainda a grande homenagem feita a Géorge Meliés, o ilusionista francês que introduziu os efeitos especiais no mercado cinematográfico e se tornou muito conhecido com a produção Viagem à Lua: uma das mais antigas imagens do cinema que mostra um foguete saindo da Terra e viajando até o olho da Lua.

Um filme tão surpreendente que merece tantas linhas para comentá-lo. Não é a toa que esta produção concorre a 11 Oscars e, assim como O Artista – que concorre a 10 e exalta a passagem do cinema mudo para o falado – presta uma grande homenagem ao cinema.

Por Mariana Mascarenhas

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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