A Era de Ouro do Rádio que revive na voz do Coral Unifesp

Uma verdadeira viagem no tempo, percorrendo um vasto e rico repertório musical dos anos trinta, quarenta e cinquenta de Ary Barroso, Dorival Caymmi, Pixinguinha, Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues – que foram sucessos nas vozes de Carmen Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva, entre tantos outros. É assim que se sente quem acompanha o espetáculo A Era do Rádio, apresentado pelo Coral Unifesp, sob direção musical do maestro Eduardo Fernandes e direção cênica de Reynaldo Puebla.

Em cartaz atualmente no Teatro Marcos Lindenberg, somente até 17 de dezembro de 2017, o espetáculo é uma nova edição da montagem de 2005, quando estreou pela primeira vez, para celebrar os 70 anos da Rádio Nacional, e foi criado a partir de pesquisa e diversos arranjos originais do maestro Amaury Vieira, trazendo para o palco a chamada “Era do Ouro” da Rádio.

Criado em 1967 pelo Dr. David Reis, o Coral Unifesp é formado por alunos, professores e funcionários da Universidade Federal de São Paulo, e também por pessoas da comunidade. Desde 1997, está vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unifesp. Seu repertório abrange, principalmente, sucessos da música popular brasileira, além de peças eruditas, com várias montagens em seu histórico.

Graduado em música pela Universidade Federal de Campinas (Unicamp) e formado em diversos cursos internacionais de Regência Coral, Eduardo Fernandes concedeu uma entrevista para falar um pouco mais sobre o espetáculo. Atuando como professor convidado em diversos festivais e cursos de música pelo Brasil, além de membro do corpo docente dos cursos de aperfeiçoamento da Funarte e professor de Canto Coral e Regência Coral da Unifiaam, Fernandes é regente do Coral USP, Grupo Mosaico e Coral da Unifesp. É sócio fundador da Associação Paulista de Regentes Corais (Aparc), da qual foi presidente.

Foto Pablo Araripe

O diretor cênico do musical, Reynaldo Puebla, também falou um pouco sobre o processo de preparação do espetáculo. Puebla estudou teatro na Argentina e atua como diretor cênico permanente do Laboratório Coral de Itajubá MG desde 1987 e nas edições do Laboratório Coral de Nova Petrópolis RS, desde 2011. No Coral Unifesp, dirigiu Os Saltimbancos, O Grande Circo Místico, Caymmi Lendas do Mar, Dos Festivais, A Era do Radio: 70 anos da Rádio Nacional, A Noiva do Condutor e foi um dos cinco diretores de Cinco Olhares sobre Lenine, entre diversos outros trabalhos já realizados.

Foto Pablo Araripe

Confira a entrevista:

Como e quando surgiu a ideia de fazer a apresentação A Era do Rádio?

Fernandes: Surgiu a partir de uma apresentação do Coral da UNIFEI (Federal de Itajubá), quando fui trabalhar pela primeira vez no Laboratório Coral de Itajubá (MG), na década de 90. O Coral Unifesp costuma fazer a cada ano, ou a cada dois anos, um novo musical. Estreamos A Era do Rádio em dezembro de 2005 e apresentamos o programa até 2008. Em 2007, estreamos os Afro-Sambas (de Baden Powell e Vinícius de Moraes), Kátia e Paulo – uma alegoria paulistana e Ópera Chica (ambos de Álvaro Cueva), A Noiva do Condutor (de Noel Rosa), O Grande Circo Místico (de Edu Lobo e Chico Buarque) e Cinco Olhares sobre Lenine. Esta reestreia de A Era do Rádio tem algumas diferenças em relação à montagem de 2005/2006

Como foi chamado para ser o diretor cênico do espetáculo e como foi esse processo de preparação do elenco?

Puebla: Com Eduardo começamos uma parceria de trabalho cênico-musical no coral da USP  e, como consequência natural, ele me convidou para um primeiro trabalho na Unifesp para fazer algumas formações corais no espetáculo Os Saltimbancos. Logicamente com um repertório aberto, as experimentações cênicas, montamos um lindo musical e foi um grande sucesso de público. A minha experiência com teatro na educação me levou a acreditar que todas as pessoas podem atuar, se são motivadas e encorajadas. A minha primeira preocupação com os cantores é que eles confiem em sua capacidade de atuar, cantando. Aumentar a expressão e buscar motivações para que a poesia que se esconde atrás de cada nota seja valorizada. A isto somamos coreografias que podem ser de teatro ou dança e vamos nos aproximando no que se convencionou chamar de teatro musical.

A apresentação traz o repertório musical de grandes sucessos que continuam a repercutir nos dias de hoje, até mesmo entre os jovens. Há uma faixa etária diversificada no público do espetáculo?

Fernandes: Este espetáculo faz jus àquela propaganda dos circos antigos: “Um espetáculo para toda a família”. Quando montanos pela primeira vez, notamos que os amigos dos cantores, nosso público inicial, voltavam no dia seguinte trazendo os pais, os avós, sobrinhos e irmãos menores. O público de mais idade tem no musical a lembrança da sua juventude. Já os jovens e as crianças se divertem imensamente com os jingles, com a encenação de algumas canções com um viés de comédia e com a radionovela.

Que grandes diferenças vocês apontariam na programação de rádio das épocas abordadas no espetáculo para os dias de hoje? E quanto aos talentos musicais?

Fernandes:Talvez a maior mudança seja que grande parte das rádios atuais esteja mais focada no jornalismo. A programação da época era muito diversificada, uma vez que o aparelho de rádio era o principal meio de comunicação e entretenimento, entendido aqui como música, teatro, jornalismo etc.

Puebla:  Eu acho que hoje a rádio oferece um maior numero de opções para seu público. E cada um encontra o que satisfaz aquele momento. Montando um espetáculo musical com uma maestrina ainda esse mês, nos apresentou duas músicas que, apesar do tempo que levou trabalhando com corais, jamais soube de sua existência: Vi mamãe beijar Papai Noel, versão de Cely Campello, e  perguntei: “Como você achou essa música?” E ela respondeu: “Na Rádio USP”. Escutei no carro e aí pensei: “Tenho que arranjar essa música. Coisas da Radio! A outra é Maria e José, de Rita Lee.

O surgimento da internet e, principalmente, de canais de série e outros provocou a migração de um público considerável da TV e do rádio para esses novos meios. As rádios já se sentiram ameaçadas com a chegada da TV, mas mantêm seu público fiel – como a dona de casa – até hoje. A que atribuem tal fator?

Fernandes: Esse tema daria uma dissertação de mestrado. Mas o que percebo é que existe espaço para todos os veículos de comunicação. O mais importante é o veículo perceber as mudanças que estão acontecendo e se reinventar, propor uma nova programação, servir ao público de uma nova maneira.

Puebla:  Acho que todos os meios encontram seu público naturalmente. Assim acontece com o cinema, o livro, o rádio, a TV e a internet. Como também acontece com o gosto musical, quem gosta de rock também escuta música erudita. Beatles e Vivaldi convivem harmoniosamente no gosto musical.

A Era do Rádio encerra temporada neste final de semana com mais duas apresentações nos dias 16 e 17 de dezembro de 2017, mas, segundo Fernandes, pretende voltar durante todo o ano de 2018, enquanto o Coral Unifesp monta um novo musical paralelamente.

Serviço:

A Era do Rádio

Onde:  Teatro Marcos Lindenberg – Rua Botucatu, 862, Vila Clementino, próximo ao Metrô Santa Cruz

Quando: sábado (16/12/17) às 15h30 e domingo (17/12/17) às 17h

Quanto: R$ 20,00 (inteira). A bilheteria abre 1h30 antes do início do espetáculo.

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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