Trapaça

Corrupção, trapaça, traição, máfia! Esses são alguns dos temas que sempre estiveram à frente na lista de preferências da Academia Cinematográfica e que continuam se destacando nos filmes, tornando-se inclusive, em alguns casos, merecedores do Oscar: caso de O Lobo de Wall Street, de Martin Scorcese, que concorre à estatueta em cinco categorias, e de Trapaça, que concorre a dez categorias, liderando o número de indicações ao lado de Gravidade.  
Dirigido por David O. Russel, a comédia dramática Trapaça, como o próprio título sugere, mostra a vida de pessoas que estão sempre dispostas a trapacear em busca de benefícios próprios, revelando uma sociedade composta por muitos indivíduos egocêntricos, cuja ideologia é a do vale tudo para se dar bem na vida. É o caso do personagem e protagonista da trama Irving (Christian Bale), um trapaceiro que se veste de modo extremamente cafona e desleixado – com seu óculos quadrado, calças e peruca extravagantes – inclusive para os padrões da época de 1978, ano em que se passa a história. Naquele período era comum encontrar pelas ruas muitos cidadãos que destoavam entre a população com suas roupas de cores fortes e óculos gritantes, compondo um brega popular.
Ao lado de sua amante Sydney (Amy Adams), Irving arranca dinheiro de todo o tipo de pessoa sob a falsa alegação de que possui contato com os mais diferenciados bancos do mundo e promete devolver uma quantia muito maior do que a retirada, o que nunca acontece. Como os “clientes” de Irving sabem que seu suposto serviço é algo ilegal ficam impossibilitados de delatá-lo, temendo serem também punidos pela justiça. Ademais, o casal surrupia dinheiro vendendo obras de arte falsificadas.
Porém, a “festinha” do par de trapaceiros acaba quando eles conhecem Richie DiMaso (Bradley Cooper), um agente do FBI que apresenta um certo desequilíbrio temperamental. Richie se faz passar por um cliente de Irving e acaba pegando-os em flagrante trapaceando.  No entanto, o agente pretende pegar “peixes maiores” e por isso oferece liberdade para os dois trapaceiros em troca da delação de quatro corruptos de grande influência com quem eles mantêm contato.
O casal e o detetive acabam optando por armar um plano para prender o prefeito de Camnde, Nova Jersey (Jeremy Renner), usando um falso xeique árabe – que na verdade é um membro do FBI – que promete oferecer dinheiro ao prefeito para instalar cassinos na região, o que é considerado ilegal. Porém, a mulher de Irving (Jennifer Lawrence) pode por a perder todo o plano de seu marido e de Richie.
Concorrendo ao Oscar de Melhor Ator, há fortes indícios de que Christian Bale possa conquistar esta estatueta, pois ele consegue cativar o público por meio de seus trejeitos simples e desleixados, mas ao mesmo tempo gananciosos e trapaceiros. Como a riqueza do filme está totalmente voltada para a relação entre os personagens em detrimento de contextos históricos, cenográficos e afins… – sem desmerecer o impecável aspecto cenográfico que realmente nos transporta para a década de 78 – Bale é quem conduz a trama de um modo suave e natural demonstrando estar totalmente à vontade com o seu personagem.
Já Bradley Cooper, que concorre ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, talvez não seja o merecedor do prêmio por ter um demorado crescimento em cena, principalmente em relação à bipolaridade de seu personagem, que só fica clara em um dos momentos em que ele agride seu chefe. Outro destaque, no entanto, é a atriz Jennifer Lawrence no papel da mulher sempre nervosa e explosiva, face ao complicado relacionamento com o marido. Desde o começo do filme Lawrence está totalmente envolta no papel e consegue até mesmo conferir mais vivacidade para as cenas em que aparece. Não é à toa que ela está concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e com grandes chances de levar o prêmio. Amy Adams também concorre ao Oscar,na categoria Melhor Atriz.

 

Trapaçatraz de forma sutil uma história cujos temas poderiam compor um filme de cunho muito mais pesado. No entanto, o diretor soube trabalhar muito bem todos os elementos sem deixá-los superficiais e, ao mesmo tempo, desnecessários de vulgaridade e apelações. Contribuem para isso a excelente trilha sonora com canções de Donna Summer, Tom Jones e Elton John que cria ainda mais empatia nos espectadores.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas

Sobre o autor

+ posts

Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Últimas publicações