Quebre a corrente

O que você faz quando alguém te passa um vídeo ou foto de mau gosto via WhatsApp?

Imagine, só por alguns instantes, o que diria uma pessoa que viveu nos anos 1950, se pudesse ver o nível de tecnologia em que a humanidade chegou. Se falarmos especificamente da área de comunicação os avanços são inacreditáveis. Chamadas em vídeo são realidade há algum tempo. As operadoras de celulares – por pior que sejam – oferecem recursos e preços que seriam inconcebíveis até 15 anos atrás.

Facebook, WhatsApp, Twitter, Youtube. É tudo muito novo. Ainda não nos demos conta do poder que temos em mãos. Eu consegui, ainda na época do Orkut, encontrar meu tio avô que havia se distanciado da família havia mais de 30 anos. Mantivemos contato pelo – agora extinto – MSN. Fizemos amizade com seus filhos, conversamos sobre o passado e, pouco mais de um ano depois desse primeiro contato, meu tio avô faleceu.

Em resumo, o que estou querendo dizer é que as ferramentas disponíveis atualmente são extremamente úteis. Pena que nem sempre fazemos uso correto delas.

Digo isso porque recentemente recebi, via mensagem de WhatsApp, alguns vídeos de decapitações e de pessoas sendo assassinadas com tiros na cabeça. Qualquer um que faça uma busca rápida no Google poderá encontrar os vídeos aos quais eu me refiro, mas achei de extremo mal gosto ter esse tipo de conteúdo compartilhado por amigos.

Já é inconcebível, ao menos para mim, que pessoas usem seus celulares para filmar assassinatos e que, depois, publiquem isso na rede. Muito pior é saber que existe público para esse tipo de conteúdo e que, algumas pessoas façam questão de compartilhar essas imagens comigo. Como se eu fosse um sádico, um psicopata, ou algo parecido.

Parece que tudo é espetáculo. Tudo deve ser registrado, publicado, compartilhado, consumido. O Grande Irmão finalmente se tornou realidade.

No entanto, sugiro aos curadores desse tipo de conteúdo que se imaginem no lugar dos familiares das vítimas. Até que ponto você se sentiria confortável com as imagens de um ente querido, que teve a cabeça literalmente estourada com um tiro, compartilhada de celular em celular?

Pense nisso da próxima vez que esse tipo de mensagem chegar ao seu celular. Não repasse. Quebre a corrente. Não faça parte desse mecanismo doentio.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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