O Péssimo Conselheiro

Anos atrás os pais, no intuito de fazer com que seus filhos não ficassem na rua, os ameaçavam com histórias sobre homens e mulheres “da roupa velha” que, supostamente, pegavam crianças enfiavam num saco e levavam embora. Claro que isso é coisa de gente simples, geralmente semianalfabeta, moradora de bairros pobres e desprovida da capacidade de produzir argumentação melhor.

Também era comum naqueles dias (não que a prática tenha deixado de existir) dizer aos filhos que existia um cara mal-humorado em algum lugar observando tudo o que eles faziam e que, caso se comportassem de forma que desagradasse seus pais, esse homem poderosíssimo viria castigá-las.

Mas não para por aí. Supostamente, no fim de ano, temos a aparição de um velhote presenteando apenas às crianças que foram boazinhas (leia-se: obedientes incondicionais, não questionadores, que apanham e não reclamam nem revidam etc.) o ano inteiro. Logo – se não for bonzinho, não ganha presente!

Poderíamos mencionar ainda as chantagens. Por exemplo: quando uma mãe diz ao filho que algo deve ou não ser feito, “senão mamãe vai ficar triste com você!”. As “palmadas” para se fazer obedecer pela força quando as palavras falham. E as imposições filosóficas e religiosas sobre aqueles que se encontram “sob o teto” dos pais.

Sim, desde nossa infância somos guiados pelo medo. Esse comportamento parece, aos poucos, ir se naturalizando, de modo que a maioria de nós, quando na idade adulta, por vezes toma decisões buscando esquivar-se de situações que nos coloque diante de incertezas ou inseguranças.

Perda ou mudança de emprego, fim do relacionamento, mudar de opinião ou de crença e admitir erros podem ser, para a maioria das pessoas, situações amedrontadoras.

Nos dias correntes, tomaremos decisões políticas que poderão, no longo prazo, tornar nossa economia mais ou menos eficiente, inclusive retomando o papel de destaque que outrora tivemos. Afinal, o país mais desenvolvido da América do Sul não pode contentar-se em continuar sendo conhecido como país emergente ou em desenvolvimento – termos usados quando não se quer chamar o país de atrasado.

Poderemos melhorar ou continuar retrocedendo em questões trabalhistas, involuir ou avançar em temas sociais ligados aos direitos das mulheres, às questões relacionadas à etnia, orientação sexual ou diplomacia internacional.

Alguns dizem que num passe de mágica nos transformaremos em uma nova Venezuela ou Cuba, talvez. Outros afirmam que dormiremos nesse arremedo de democracia em que vivemos e acordaremos numa ditadura militar semelhante àquela experimentada a partir de 1964.

Alguns dizem que ambas as coisas são impossíveis, mas impossíveis não são, pois do contrário não aconteceriam noutras partes do mundo. Mas será que é preciso ter uma perspectiva tão extremista?

Por outro lado, não podemos decidir nosso futuro pensando exclusivamente em questões relacionadas com segurança pública e uma remota possibilidade de mudança na legislação referente à posse de armas. Até porque, se posse de armas pacificasse um povo, não haveria crimes nos Estados Unidos, já que na maioria dos estados daquele país os cidadãos podem possuir e portar armas.

Tampouco podemos fazer escolha tamanhamente importante pensando apenas na promessa de retomar um período próspero recente, porque nenhum candidato pode garantir que conseguirá se sobressair à crise política atual que pouco está se lixando para a grande parte da população.

Nossa decisão não pode basear-se no nosso ódio por um ou outro personagem. Mesmo porque, existem questões práticas a serem tratadas por seja quem for o personagem escolhido e que terá de lidar com suas limitações não apenas políticas, mas também intelectuais.

Enquanto seres, mesmo que minimamente humanos, não podemos permitir que nossa vontade desesperada de vencer o combate nos torne antiéticos, falsários e mentirosos criando todo tipo de montagens e inverdades com a única finalidade de prejudicar a imagem da pessoa que, voluntariamente ou não, aprendemos a repudiar.

Nada pode garantir que não nos arrependeremos. As pessoas que votaram nos dois principais candidatos das eleições em 2014, quase que em sua totalidade se decepcionaram. Se decepcionaram porque guardavam expectativas demais, porque, sabe o Diabo, qual o motivo de as pessoas buscarem um messias redentor.

Idealizam esse salvador sempre que emergem indivíduos como Lula, Joaquim Barbosa e, mais recentemente e com menos unanimidade, Sergio Moro.

Como o povão não cansa de acreditar em milagreiros (e os busca desesperadamente), também os milagreiros não deixarão de aparecer. Por medo de errar novamente e talvez por impaciência mesmo, começam a digladiar-se, disputando o presumido direito de impor sua opinião e a certeza cega de estar diante de um novo messias.

A verdade é que, tanto de um lado como do outro, o discurso que impera na tentativa de convencimento é recheada de incitação, senão ao ódio, com certeza ao medo. E já diria o velho ditado que “o medo é um péssimo conselheiro”.

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