O efeito Dunning-Kruger

Conhece alguém que fala de assuntos que não domina com excesso de confiança? É o efeito Dunning-Kruger, aquele mesmo que está dando o tom dos debates políticos no Brasil e no mundo.

McArthur Wheeler tinha 44 anos quando resolveu assaltar um banco. Ele morava na cidade de Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia. O ano era 1995. Seu plano era tão simples que lhe parecia estranho que ninguém tivesse pensado nisso antes. Tentemos acompanhar o raciocínio do nosso gênio do crime: O suco de limão pode ser utilizado para escrever cartas invisíveis, que só podem ser lidas quando aproximadas de uma fonte de calor. Sendo assim, é possível passar esse mesmo suco de limão no rosto para ficar invisível.

Wheeler resolveu fazer um teste. Não iria invadir um banco sem ter certeza. Passou o suco de limão no rosto e tentou tirar uma foto de si mesmo usando uma máquina Polaroide. Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas é possível que a acidez do limão tenha criado algum desconforto nos olhos e isso o impediu de ajustar corretamente a câmera. Ele acabou fotografando o teto, que era branco como a parede ao fundo. Ficou maravilhado, a fórmula do suco de limão havia funcionado. Ele estava invisível.

Acredite se quiser, mas o super vilão roubou dois bancos naquele dia, sem usar máscaras. As câmeras de segurança registraram seu rosto e ele foi preso algumas horas depois.

Quando David Dunning, professor de psicologia na Universidade de Cornell, leu a notícia, sua curiosidade foi estimulada. Como alguém pode ser tão estúpido? Como alguém pode desconhecer sua própria ignorância dessa forma?

Dunning convidou Justin Kruger, seu melhor aluno, para ajudá-lo numa pesquisa sobre o tema. Recrutaram um grupo de voluntários e desenvolveram um teste. Primeiro, o indivíduo era questionado sobre seus conhecimentos nas áreas de gramática, humor e raciocínio lógico. Logo depois ele realizava uma prova escrita para comprovar o quanto realmente sabia.

O resultado foi publicado num artigo do Journal of Personality and Social Psychology, em dezembro de 1999. O que os dois pesquisadores descobriram surpreendeu a todos. A turma que mais confiava em suas próprias habilidades e dizia dominar o assunto havia tirado as notas mais baixas. Aqueles que se mostravam um tanto inseguros, haviam conseguido as melhores notas. Quatro pontos importantes foram concluídos desse experimento: 1) os ignorantes não reconhecem sua própria ignorância; 2) os ignorantes têm dificuldade para reconhecer a expertise alheia; 3) os ignorantes não reconhecem o tamanho da sua ignorância; 4) se forem devidamente instruídos podem reconhecer sua ignorância anterior.

Em resumo, para poder avaliar suas limitações é preciso conhecer, ter dimensão do quanto o assunto é complicado. Aqueles que dominam bem determinada área costumam ser menos confiantes. Quem sabe muito pouco costuma se achar mais instruído do que realmente é.

O caso parece surreal. No entanto, preste atenção aos debates nas redes sociais. O efeito Dunning-Kruger dá o tom da conversa. É possível que você mesmo já tenha bancado a autoridade num assunto qualquer do qual conhecia muito pouco.

Certezas absolutas são sintomas de imaturidade e arrogância. Façamos um esforço de amadurecimento. Sei que não é fácil, mas só assim poderemos nos tornar mais tolerantes.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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