Ler para quê?

O exercício da leitura diária fez de mim alguém mais suscetível a reconhecer os próprios erros e a rever constantemente minhas certezas

De vez em quando algum amigo pergunta como faço para ler tanto. As pessoas que acompanham meu dia a dia sabem o quanto tenho uma rotina exaustiva. Trabalho na redação, vida acadêmica, cuidados com a família que mora em outro estado, exercícios físicos. No meio disso tudo, como é possível encontrar tempo para ler?

Primeiro é preciso entender que a leitura, para mim, é uma necessidade. É um hábito que foi desenvolvido ao longo dos anos, com a prática diária. Entre fazer uma maratona na Netflix e ficar na companhia de um bom livro, eu prefiro a segunda opção. E aqui eu peço certa atenção: eu também vejo filmes e séries na Netflix, eu também vejo os amigos semanalmente, eu tenho uma vida normal, como todo mundo. Mas, eu estipulo um horário para ler diariamente. Nem que sejam aqueles vinte minutos antes de dormir. A leitura, para mim, é muito mais importante do que ver a temporada completa daquela nova série durante a madrugada. É tudo uma questão de prioridades.

Eu divido o livro por metas de leitura. Deixe-me explicar melhor: comprei o livro Master of Sex, do jornalista Thomas Maier. Olhei o índice e vi que são 40 capítulos. Estipulei que leria dois capítulos diários. Seguindo essa meta, termino em vinte dias.

Em paralelo, vou fazendo o mesmo com outros livros. Costumo ler dois ou três ao mesmo tempo. Atualmente, ficção é o que menos leio, mas leio de tudo.

Ando sempre com algum exemplar em mãos. Aproveito a fila do banco, o trajeto de metrô, a espera num consultório. O importante é ter sempre um livro disponível. Você nunca sabe quando vai precisar. Em vez de ficar mexendo no celular, eu leio. Nesses casos específicos, um aparelho de leitura digital ajuda muito. Eu tenho o Kobo.

Nunca deixo as metas acumularem. Se eu fiz um acordo, comigo mesmo, de que leria dois capítulos diários, eu lerei dois capítulos diários. Nada de deixar para o dia seguinte. Se não foi possível dar conta de dois capítulos hoje, quem garante que eu conseguirei ler quatro amanhã?

Estou sempre em busca de leituras que me desafiem. É muito cômodo ler sempre aquilo que temos costume. Conheço muita gente que nunca foi além das histórias em quadrinhos ou dos romances água com açúcar. Quanto maior for o seu esforço para se tornar um leitor mais competente, maiores serão suas recompensas intelectuais.

E há um conselho que costumo repetir para os jovens leitores: sempre que possível, evite os intérpretes que simplificam a mensagem. Beba direto da fonte. Você pode ler o que os intérpretes de Nietzsche escreveram sobre ele, mas leia também os escritos do próprio autor. O mesmo vale Marx, Gramsci, Freud, Ayn Rand, Roger Scruton e tutti quanti.

E por último, mas não menos importante, tenha em mente que a leitura não te dará retornos diretos e imediatos, mas serão tijolos na construção do seu cabedal cultural. É esse cabedal que irá definir sua conduta e sua interpretação do mundo. Eu gosto de acreditar que minhas leituras fizeram de mim uma pessoa melhor do que eu era. E é essa crença que continua me motivando.

 

José Fagner Alves Santos

 

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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