Ler e escrever

A leitura dos clássicos ainda é, de longe, a forma mais prática de amadurecer seu estilo literário.

A dificuldade em redigir um bom texto é causada, principalmente, pela falta de leitura. Todos já ouvimos, e até repetimos, a máxima de que “é lendo que se aprende a escrever”. A frase é tão conhecida que parece ter se esvaziado de seu conteúdo, parece ter se tornado uma daquelas lendas urbanas que todo mundo repete, mas ninguém acredita. Aprendemos a falar falando, mas antes, é preciso ouvir.

Quando criança, imitamos a fala dos nossos pais, imitamos o sotaque, imitamos a entoação. Começamos repetindo as palavras de forma caricatural e vamos aperfeiçoando ao longo do tempo. É dessa forma que aprendemos um segundo ou terceiro idioma.

E por que será que não fazemos o mesmo com a leitura? Porque não lemos. Ler cansa. Em matéria para a Revista Super Interessante, a jornalista Marcella Chartier (veja aqui) aborda uma questão fundamental sobre esse assunto: nosso cérebro possui uma capacidade limitada de desempenho. Depois de certa quantidade de esforço é preciso descansar o cérebro para que possamos reiniciar todo o processo.

A leitura, como se sabe, exige certo esforço, cansa a nossa visão, consome nossas energias. Sim, a leitura pode ser prazerosa, mas exige certa dedicação inicial para que se chegue ao nível em que deixe de ser uma obrigação e se torne uma necessidade. Para se chegar a isso a leitura precisa ser incentivada, praticada, cultivada.

É por isso que o jornalismo usa infográficos, fotografias, técnicas de escrita. Tudo para tornar a leitura menos trabalhosa, mais confortável. Tudo para que o leitor entenda na primeira leitura, para que o conteúdo possa ser consumido da forma mais rápida e direta possível.

O trabalho do jornalista é empacotar a informação para que ela se torne mais fácil de ser consumida.

Se já é difícil fazer com que um jovem sem hábito de leitura consuma um conteúdo de teor jornalístico, o que pensar da literatura clássica? A leitura dos clássicos pode nos ajudar a entender melhor o nosso idioma, a formular melhor um enunciado, a compreender melhor a realidade que nos rodeia, a experienciar situações que não conseguiríamos de outra forma.

E seria assim, por meio da leitura e cópia dos clássicos, que desenvolveríamos melhor a nossa língua escrita e falada. Seria assim que aprenderíamos as nuances, as figuras de linguagem, as soluções estilísticas, a musicalidade das formas.

O jornalista tem, obrigatoriamente, que ler os clássicos. Não importa se ele trabalha com rádio, TV, impresso ou internet. Caso contrário, ficaremos presos a um limitado conjunto de soluções estilísticas, empobrecidas pela repetição e pelo esvaziamento de seus respectivos conteúdos.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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