É preciso aprender a manter a calma

Nunca serei um bom debatedor se continuar tendo reações emotivas toda vez que for provocado. A oratória é uma arte que precisa ser constantemente exercitada

 

Um dos meus maiores defeitos é que sou uma pessoa extremamente sanguínea. Explodo facilmente. Tenho enorme dificuldade para me calar diante de algo que considero leviano. O pior é que, quando fico nervoso, costumo assassinar a concordância, engolir o “s” e ignorar os plurais metafônicos. Em resumo, argumento parecendo um troglodita. Depois de tanto tempo de debates públicos, eu já deveria ter aprendido.

Conto isso porque, depois da minha defesa de mestrado, resolvi assistir às aulas do meu orientador como forma de preparo para o processo seletivo do doutorado. Alunos de pós-graduação, em sua maioria, são pessoas com opiniões fortes, discurso agressivo e militante, além de tendências a repetições de clichês consagrados por determinado espectro político.

O resultado não poderia ser outro: saí aborrecido depois de ter sido um tanto indelicado com uma colega, que certamente passou a me odiar. Mas, para que fique claro, foi ela que começou a ofensa, generalizando o jornalismo como um ofício de pessoas que não sabem o que fazem.

Ao chegar em casa, li um texto do Bruno Garschagen sobre uma entrevista que o psicólogo clínico e professor da Universidade de Toronto, Jordan B. Peterson deu a Cathy Newman, uma jornalista britânica. “Aí, você lê o Bruno Garschagen?” Eu leio até Caros Amigos, Brasil de Fato e tutti quanti. Por que não leria o Bruno?

A entrevista é uma aula de debate e oratória. Não tentarei aqui validar ou invalidar qualquer um dos argumentos. A questão é que Peterson se manteve sereno diante de todo o processo torturante que foi a entrevista. Respondeu com muita calma e tranquilidade até que a jornalista não tivesse mais condições de continuar com seu processo agressivo.

Jordan B. Peterson tem um canal no Youtube com quase 900 mil seguidores (no momento em que escrevo este texto). Li, num dos muitos sites sobre ele, que existe um número significativo de pessoas que fazem doações para esse mesmo canal, por meio da plataforma Patreon. Seu livro, 12 Rules for Life: Na Antidote to Chaos, entrou para a lista dos mais vendidos da Amazon.

Acredito que é necessário analisar algumas coisas: Peterson estava muito bem preparado. Sua argumentação demonstra que houve uma elaboração e refinamento anterior àquele encontro. Ele foi cuidadoso com a escolha das palavras, evitando dizer algo que possa comprometê-lo no futuro. Tudo isso deu segurança, ao psicólogo, que se manteve calmo, e até sorriu, durante todo o processo.

Fica o aprendizado. É preciso preparo, refinamento, cuidado com a escolha dos termos, com o uso das fontes e, acima de tudo, é preciso um mínimo de segurança naquilo que se diz.

Vou acompanhar o trabalho do Peterson e analisar o quanto é possível, efetivamente, aprender com ele. Numa época em que as pessoas combatem os argumentos divergentes com ataques pessoais, este será um grande exercício

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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