Desinformação profissional

Há algum tempo que eu venho observando e reclamando de alguns comentaristas de Facebook. São pessoas que se prestam a compartilhar informações sem checar a veracidade do que estão divulgando, simplesmente pelo fato da notícia confirmar seus preconceitos.

De modo geral, são “matérias” publicadas em sites partidários ou canais oficiais, que têm como função defender determinada causa enquanto ataca outra.

Mas a verdade é que, na maioria dos casos, essas pessoas que compartilham e comentam esse tipo de informação, são indivíduos que fazem isso sem a intenção consciente de ignorar a verdade. São pessoas que acreditam realmente naquele viés confirmatório. Só para exemplificar: entre os meus amigos de infância, os que mais fazem esse tipo de coisa são pessoas que se informam lendo histórias em quadrinhos, assistindo a vídeos humorísticos no Youtube e compartilhando – quase sempre sem ler – os posts do Facebook que confirmem suas crenças. Tentar explicar que aquela informação não está correta por X mais Y é decretar guerra por meio de ofensa pessoal.

Foi exatamente por isso que excluí meu perfil. O ambiente não é saudável. As pessoas usam a ferramenta para corroborar ideias pré-existentes e atacar tudo que parece ser ameaçador.

No entanto, tenho observado que o debate político, publicado nos principais jornais brasileiros, não vai em direção muito diferente. É claro que, no caso de algo escrito por profissionais da comunicação, há toda uma retórica rebuscada. Mas o conteúdo central continua sendo de defesa de uma causa em detrimento de outra. Uma tomada de partido que não é baseada em fatos, mas nas preferências subjetivas do articulista.

A tática é simples, basta fazer um recorte das informações que confirmem sua tese, enquanto ignora tudo aquilo que a desmistifique. As fontes de informação não são muito amplas. Resumem-se, quase sempre, a comentar apenas o que foi publicado na própria mídia periódica.  Análise histórica, consulta a livros documentais ou a testemunhas oculares, só são cogitados em caso de confirmação do assunto defendido. É aquilo que Rolf Kuntz chama de autofagia jornalística, os comunicadores escrevem nos jornais aquilo que leram nos jornais.

Talvez seja esse o motivo da divisão bidimensional na interpretação política nacional. Fico imaginando o que aconteceria se o mesmo processo fosse aplicado à análise econômica.

Fiquemos de olho.

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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