Como abandonei os fanzines

Os custos para se disseminar uma informação, qualquer que seja o formato, pela internet são muito mais baratos do que pelos modelos analógicos. Além disso, a velocidade com que essa informação irá se propagar será infinitamente maior.

Em meados da década de 1990 surgiram as primeiras versões do que hoje chamamos de blogs. Entre 2002 e 2003 esse tipo de plataforma começava a se popularizar aqui no Brasil. Quando finalmente os descobri, tive noção do quanto estava nos primórdios da comunicação. Eu elaborava fanzines impressos em máquinas de fotocópias, distribuía pelos correios, me comunicava via cartas. Existia todo um universo que eu desconhecia. Blogs, podcasts, e-mails, tudo era novidade para mim. Devo esse meu primeiro contato com o mundo digital ao meu amigo Sandro Palmito (Cara, onde é que você anda?).

Nem preciso dizer que quis fazer um blog imediatamente. Eu teria um alcance muito maior, com muito mais recursos, com um custo muito mais reduzido. E assim foi. O meu fanzine foi descontinuado e eu comecei a consumir informação no formato digital. Queria aprender aquela nova linguagem. Queria aprender como se fazia tudo aquilo.

Entre o final de 2004 e início de 2005 conheci os podcasts. O primeiro que ouvi foi o programa do Alexandre Sena. Logo depois descobri o Elaspod, da Alessandra Marfisa e da Mila Juns e, na sequência, o Alguém precisa falar, do – hoje – meu amigo, Eddie Silva. Para mim tudo aquilo era mágico. Eu me sentia como um astronauta que estabeleceu contato com vida inteligente fora da terra. Com a minha conexão discada – a vida não era fácil para um internauta na periferia de Ipiaú no início do século – levava de três a quatro horas para baixar cada episódio. Mesmo assim eu baixava.

Ria muito com as freadas de bicicleta descritas pelo Eddie Silva (Seu Silva, como ele mesmo gostava de se chamar), aprendia muito com o Sena e com as meninas do Elaspod. E fui descobrindo mais: Escriba Café, Impressões Digitais, Garota Sem Fio.

Aos poucos, a ideia de continuar produzindo um fanzine – impresso, distribuído pelos correios – ia perdendo fôlego. Eu havia sido fisgado pelo universo digital e demoraria muito até retornar às raízes.

Post Scriptum

Recomendo veementemente que você assista à segunda parte do documentário Fanzineiros do Século Passado. Esse material dá uma dimensão do que foi o movimento dos fanzines e sua importância para a manutenção da contracultura num período pré-internet.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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