Camille e Rodin

 

Um espetáculo que mistura romance, paixão extrema, obsessão e até mesmo insanidade tentando encontrar o equilíbrio entre a sutileza e os mais desvairados sentimentos: assim é Camille e Rodin, peça que traz para os palcos a conturbada história de amor entre dois escultores franceses, baseada em fatos reais.
 
Leopoldo Pachecco interpreta Auguste Rodin (1840 – 1917), um homem aparentemente calmo e sutil, que passa horas em sua galeria esculpindo obras encomendadas, principalmente, pela classe elitista. Sua rotina muda completamente quando ele conhece a jovem Camille Claudel (1864-1943) – papel de Melissa Vettore – que vai até Paris para aprender a esculpir com Rodin.
 
Não demora muito para surgir um clima de romance no ar e os dois artistas se envolverem um pelo outro. Mas o sentimento é conturbado por uma série de conflitos não só internos como externos, já que àquela época ainda predominava uma sociedade de concepções machistas, que concebiam à mulher apenas as funções domésticas e de proteção e cuidado familiar.
 
Sendo assim, Camille se vê obrigada a enfrentar diversos entraves na concretização de seu objetivo de se tornar uma escultora na condição de mulher, inclusive com o próprio Rodin, a quem ela culpa por retardar o ensino artístico a ela. Para Camille, ele tem a consciência interna de que ela não poderá ser uma grande artista, apesar de encorajá-la a tal feito, simplesmente por ser mulher. Revelações inesperadas também contribuirão para que a jovem francesa se exalte gradativamente com Rodin.
 
Dirigido por Elias Andreato, a peça narra a trama em dois tempos, trazendo o passado e o presente simultaneamente. Esta é uma forma temporal que vem cada vez mais sendo trabalhada pelos diretores teatrais e parece atrair muito mais a atenção do público, que precisa ficar atento às cenas de momentos distintos que parecem se entrelaçar na trama.
 
O espetáculo é totalmente humanizado pelos conflitos sentimentais que perpetuam a vida do ser humano de forma extremada ou suavizada. Durante os 75 minutos de duração da peça, a personagem Camille revela o crescimento gradativo, dentro de si, de um amor obsessivo por Rodin. A obsessão é tamanha que atinge a sanidade da jovem e a coloca em um verdadeiro estado de transe em diversos momentos.
 
A disputa de poder com o escultor francês por parte de Camille, que insiste em admitir que Rodin teme ser superado pelo sucesso da moça e por isso ele tenta ocultá-la em sua galeria, começa a ganhar tal ênfase de modo que, mesmo nos momentos em que tem seu talento reconhecido pela crítica, ela viaja entre realidade e fantasia criticando e se exaltando exageradamente com o escultor.
 
Se Camille se destaca pelo seu tom explosivo, Rodin se caracteriza pelo oposto, aparentando um semblante brando e sutil, que se transforma somente quando a escultora ultrapassa todos os limites dele.
 
A atriz Melissa Vettore está excelente em seu papel, conduzindo a plateia para os momentos de insanidade da personagem, cuja mente está tomada por deturpações. Seu talento não ofusca o brilhantismo de Leopoldo Pacheco, que se entrega aos sentimentos exatamente opostos aos da personagem de Melissa interiorizando suas emoções e tentando sempre abrandá-las.  
 
O espetáculo permanece em cartaz até 31 de Março no teatro do MASP.
 
Por Mariana da Cruz Mascarenhas

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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