As surpresas na vitória de Trump

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

Para melhor compreensão dos motivos da escolha Trump, e, também, evitar os exageros de uma análise política simplista, faz-se mister a prática da prudência nos comentários sobre as eleições norte-americanas de 2016.

Não se fala outro assunto na mídia mundial, desde o dia 9 de novembro de 2016: a vitória do republicano Donald Trump para a presidência dos EUA, depois de uma acirrada disputa entre ele e a candidata democrata Hilary Clinton, despertando, inclusive, fortes protestos em vários Estados Americanos.

Nascido em Nova York, empresário, milionário e ex-apresentador de reality show, o novo presidente eleito – que nunca havia exercido qualquer cargo político até então – começou a destacar-se principalmente quando falou em medidas como a deportação de 11 milhões de imigrantes ilegais dos EUA, incluindo até mesmo a construção de um muro na fronteira com o México, extinção do programa de saúde criado por Obama – deixando 18 milhões de americanos sem plano –, fomentação do protecionismo, revisão do tratado do comércio exterior, retirando os EUA de acordos comerciais, entre outras medidas.

Depois da confirmação da sua vitória, o mercado global sofreu uma reviravolta que repercutiu em partes do mundo todo. Com a derrota de Hilary, o dólar já operava em alta de 1,32% ante ao real. No dia 10/11 a moeda norte-americana chegou a disparar mais de 5% em relação à moeda brasileira. No mercado financeiro mundial, o clima é de insegurança, incertezas e olhar atento para o que vai acontecer nos próximos meses, logo depois que o republicano tomar possa no dia 20 de janeiro de 2017.

 Toda esta indefinição torna os mercados globais mais voláteis. Antes mesmo de ser eleito, bastou que Trump subisse nas pesquisas eleitorais para que a Ibovespa registrasse a maior queda desde setembro, encerrando o dia com baixa de 2,46%. Alguns economistas falam numa provável recessão da economia estadunidense caso as medidas protecionistas defendidas por Trump sejam colocadas em prática, mas o fato é que ninguém sabe ao certo como será a gestão do republicano.

Tudo isso porque o megaempresário apresenta um discurso conservador, ameaçando construir um muro na divisa dos EUA com o México, expulsar os imigrantes ilegais, questionar os Acordos Internacionais, tabelar e retomar o protecionismo sobre os produtos agrícolas e industriais, entre outras iniciativas…

Na economia, seu forte discurso de ataque à globalização mundial soa como uma ironia, vindo de alguém nascido num país considerado símbolo da abertura e expansão comercial pelo mundo e ainda representante da direita. Mas diante de tantos alardes e previsões é preciso atentar-se para os dois lados da história, a fim de compreender melhor como um país considerado símbolo do progresso e inovação, escolheu como seu representante alguém de cunho conservador e defensor de uma economia mais austera e fechada.

Uma das possíveis respostas para a vitória é o fato de que Trump despertou o descontentamento de um expressivo grupo dos EUA composto por trabalhadores americanos, sem educação superior, que atuam principalmente na mão de obra e viram no grande fluxo constante de imigrantes que vão para o país uma ameaça ao seu emprego. São pessoas que se sentem marginalizadas e excluídas dos mercados, vitimadas também pelas mudanças tecnológicas, que acabam por suprir grande parte da mão de obra, e pela globalização de modo geral.

A desigualdade social nos EUA vem apenas aumentando. Um estudo elaborado pela Economic Politicy Institute, uma organização sem fins lucrativos, mostrou que, em valores reais, descontando a inflação, o americano médio está ganhando pior do que na década de 1970. O estudo também mostrou que o patrimônio somado das 400 pessoas mais ricas dos EUA – 2,3 trilhões de dólares – supera todo o rendimento de 36 milhões de famílias americanas.

Fechar as portas dos EUA para acordos comerciais não se revela a solução mais plausível para fomentar a economia norte-americana, considerando que nenhum país é autossuficiente e seus recursos são esgotáveis – vide exemplo do Brasil quando o governo Lula optou por fomentar o comércio de certos produtos nacionais em detrimento da importação de itens que sairiam mais baratos, quando o país desfrutava de um memorável crescimento econômico o qual agora só tem decaído. Mas a desigualdade norte-americana existe e uma das propostas de Trump é tentar amenizá-la criando milhões de empregos que favoreçam os cidadãos dos EUA.

E o Brasil? Como fica nesta história? Segundo maior parceiro comercial do nosso país, os EUA respondem por 20% das exportações brasileiras. Medidas isolacionistas adotadas por Trump na economia poderiam sim afetar a relação comercial entre os dois países, porém ainda é muito cedo para qualquer previsão de cunho catastrófico e o melhor a fazer é esperar para acompanhar como o cenário se desenrolará, com um olhar mais neutro e desprovido de tantos rótulos tempestuosos cuja mídia insiste em reforçar sobre o republicano.

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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