Arquivo X e a minha mudança de fase

Quando eu era adolescente e morava numa cidade do interior da Bahia, minhas opções de entretenimento televisivo eram absurdamente limitadas. Não tínhamos TV a cabo e os canais abertos se limitavam ao SBT, Globo, Bandeirantes e, esporadicamente, TV Manchete.

Eu já estava numa fase em que não era mais possível me divertir assistindo aos seriados japoneses. O vídeo cassete só chegou ao nosso lar em 1996 e, mesmo assim, pesava no bolso ter que locar três ou quatro fitas VHS todo final de semana. Mas era exatamente isso que fazíamos.

Não é preciso dizer que fiquei muito feliz quando a cidade começou, finalmente, a receber o sinal da TV Record. Não é que eu morra de amores pelo canal, que fique bem claro, mas era uma opção a mais. Para a minha felicidade, na época, a Record exibia vários seriados em sua programação. Era possível assistir ao Zorro, The Pretender, Millenium, Monk e – a minha preferida – Arquivo X.

A série criada por Chris Carter me fisgou por contar histórias de terror, aliens e lendas urbanas em geral, de forma sóbria – ao menos era isso que eu achava. A agente Scully estava sempre questionando, com base em conhecimento científico, as teorias mirabolantes do agente Mulder. Nunca tinha visto nada igual.

Fiquei fã e assisti a todos os 200 episódios, sem falar dos dois filmes (o primeiro, “Arquivo X – o Filme”, foi produzido em 1998 e o segundo, “Eu quero acreditar”, em 2008, seis anos depois da série ter sido encerrada). A lembrança que ficou foi a melhor possível.

Em 2015 li em algum lugar que a série retornaria numa temporada de seis episódios e que seriam exibidos aqui no Brasil pela Fox. Fiquei todo alegre. Mal podia me conter. Eis que o dia chegou, 25 de janeiro de 2015, 23h e 59 min. Lá estava eu aguardando na frente da TV.

Fiquei feliz em ver os dois atores principais (David Duchovny e Gillian Anderson) trabalhando juntos novamente. Deu certa nostalgia quando ouvi a música de abertura, até assoviei junto. No entanto, não consegui me conectar. Percebi, pela primeira vez, como a trama é inverossímil, como os personagens são caricatos, como algumas situações chegam a ser cômicas.

Eu havia me tornado um velho chato. Era difícil conseguir desligar um pouco e aproveitar o enredo. Percebi que aquele seria o primeiro e último episódio desta nova temporada que eu conseguiria assistir.

Aquele Fagner ficou para trás, guardado nas minhas memórias da adolescência. Não acho que seja ruim, apenas percebi que esta é outra fase da minha vida.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

Website | + posts

José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Últimas publicações