Alô, Dolly!

Dificuldades em encontrar a sua cara metade? Não tem mais esperanças em achar alguém para juntar as escovas de dente? Saiba que a solução pode estar mais próxima do que se imagina. Já pensou em recorrer à ajuda de uma “consultora de maridos/esposas”, ou – num português mais direto – a uma casamenteira? Que tal chamar Dolly? Esse é o foco da peça Alô, Dolly!, espetáculo baseado no musical que estreou na Broadway em 1964 e, dois anos depois, veio a ser montado no Brasil por Bibi Ferreira.
Agora a história se passa no palco do Teatro Bradesco. Desta vez é Marília Pêra quem vive a protagonista Dolly, uma casamenteira muito conhecida pelos habitantes do vilarejo onde mora, por eles consultarem os serviços dela em busca de seus amores.  Mas até o coração de Dolly não escapa das flechas do amor e ela acaba se encantando por Horácio Vandergelder (Miguel Falabella), um comerciante conservador e um pouco rabugento, que está em busca de uma esposa.
Dolly então arruma um encontro para Vandergelder com uma mulher em Nova York, mas na verdade a casamenteira quer mesmo é conquistar o coração do comerciante. Enquanto isso a filha dele diz estar apaixonada por um simples e pobre rapaz da região, algo que não agrada nada a seu pai devido, principalmente, às condições sociais do garoto.
E Dolly mais uma vez intervém com seu feeling romântico para que a filha de Vandergelder fique com o seu amado, sugerindo que o casal participe de um concurso de dança em um chiquérrimo restaurante em Nova York, para onde ela pretende mandar o amigo comerciante. O intuito é que o casal ganhe o concurso para impressionar Vandergelder e assim ele permita o casamento de sua herdeira com o amor dela.
Os empregados do comerciante, que são altamente explorados por ele e quase nunca tiram férias, elaboram um plano a fim de darem “uma escapadinha” para Nova York enquanto o patrão está fora da loja, com o objetivo de conhecerem a encantadora cidade e seus diversos atrativos, que para eles têm um significado muito grande, já que a vida de cada um praticamente se resume a cuidar da loja e ambos mal conhecem o que há além da pequena cidade onde moram. Muita confusão acontece a partir de então, quando todos partem à Nova York e ocorrem diversos encontros inesperados.
Esta versão brasileira de Alô, Dolly! é diversão garantida para a plateia, que se encanta com os personagens desde o começo do espetáculo criando uma grande empatia, a qual cresce a medida que o musical se desenrola. Não há como não destacar a esplendorosa atuação da atriz Marília Pêra que, em plenos 70 anos de idade, confere uma vivacidade e uma energia ao seu personagem, dotada de tamanho fôlego a dar inveja em muitas atrizes bem mais novas do que ela.
Marília trabalha em Dolly um humor muito bem dosado, desprovido de exageros desnecessários e assim consegue transcender perfeitamente entre o real e o imaginário, aumentando a crença do público no que se passa no palco – afinal a emoção cênica é construída na potencialidade de cada ator que consegue fazer com que a plateia se esqueça de estar assistindo a uma representação e acredite na história encenada, algo que depende exclusivamente do elenco e da forma como este é conduzido pelo diretor, já que neste quesito o aspecto cenográfico é mero complemento, pois um ator sensacional, em um palco desnudado de recursos, se basta para cativar o público.
Outra atuação magnífica é do ator Miguel Falabella – que também é o diretor do espetáculo e fez a adaptação da obra para esta versão brasileira. Junto com Marília Pêra os talentos de ambos se complementam e enriquecem demasiadamente o contexto cênico, que ganha um aumento deste humor gostoso e leve trabalhado na peça.
Um dos pontos fortes deste musical, a meu ver, está na correta e devida inserção das canções para “musicalizar” e “ilustrar” as cenas, já que a peça é composta por muitas falas e alguns diálogos possuem tamanha duração que até nos esquecemos, instantaneamente, de que se trata de um musical.

 

Todavia, tal característica apenas contribui para que esta produção se aproxime ainda mais da perfeição em sua totalidade, pois são diversos os espetáculos musicais cujos produtores, para fazer jus ao gênero, inserem músicas do começo ao fim, não valorizam as falas, e acabam alterando o contexto da trama original e tornando-a cansativa. Afinal não é porque se trata de um musical que o ator deve entrar e sair de cena cantando o tempo todo e Alô, Dolly! acerta em cheio neste quesito, além de arrasar em elenco, produção e cenário.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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