A viagem de Marco Polo pelas terras de Peruíbe

Em 2017, ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, cheguei à cidade de Peruíbe, pertencente a um dos 27 estados do Brasil.

Natureza

O lugar é muito rico em belezas naturais. Há florestas, montanhas e água em abundância. Existem muitas aves e animais – selvagens e domesticados. Não é permitido caçar. Em tese de lei, os animais devem ser respeitados e preservados para as gerações futuras. A cidade fica em uma planície costeira e é ladeada por morros e montanhas. Há um pequeno rio que corta toda a extensão do território, que é chamado de Rio Preto.

Os peixes estão rareando devido as sujeiras jogadas em suas águas. Perto da foz, existe uma lama que eles chamam de mangue. De lá é extraído um bicho muito estranho: Ele é cascudo, peludo e mal-cheiroso, mas é muito nutritivo e saudável comê-lo. Dá-se a ele o nome de caranguejo que é cozido na água antes do consumo.

Pessoas

Os moradores desta cidade falam o português pois, passados uns trezentos anos depois de minhas viagens pela Ásia, os portugueses chegaram por aqui, se apossaram das terras, saquearam o local e mataram os índios. As pessoas daqui são inclassificáveis, como bem disse um autor chamado Arnaldo Antunes, pois há brancos, negros, amarelos, pardos e de qualquer outra parte do mundo que se possa imaginar. Todos aparentam viver em harmonia um com os outros.

Plantações

A plantação que mais se destaca é a banana, que veio trazida da Ásia. Com ela, é possível fazer diversos pratos, doces e também o consumo in natura. Um dos pratos locais mais conhecidos é feito com a união da banana e de um peixe chamado Tainha, pescado nos meses frios e muito bom para o comércio.

As casas

Não há palácios e nenhuma construção erguida para ser bela. Existem pequenas casas feitas umas grudada nas outras, erguidas conforme a condição de cada família. Não existe qualquer ajuda dos governantes e a população está a mercê da sua sorte e do seu destino. Algumas famílias até residem em casas que mal conseguiram terminar.

Boungainvillè

Os nobres da cidade e também de outras partes do país se reúnem em pequenas jurisdições semelhantes a pequenos feudos. O mais conhecido é o Boungainvillè. De lá, estes falsos nobres fingem não enxergar e até não existir a miséria e a pobreza dos demais moradores e não levantam uma palha para que a situação melhore além de seus muros. Preferem a ilusão de que o mundo é perfeito e do jeito que imaginam.

Casas Antigas

As casas dos antigos eram feitas com madeiras das florestas e preenchidas com barro. As telhas eram de sapê ou de outra planta abundante chamada de Guaricana. Nesta última o coletor deve tomar cuidado com os carrapatos Micuins que se encontram nas folhas deste pequeno arbusto.

Vida Antiga

Ainda falando dos moradores antigos, estes viviam da pesca e da coleta de mariscos. Faziam armadilhas para a caça e plantavam mandiocas para a fabricação de farinha. Na época da colheita, se reuniam em turmas para dividir os esforços que terminavam em festejos que duravam até o amanhecer do dia.

Estradas

Existem muitas estradas na cidade de Peruíbe: bonitas e calçadas, mas também existem outras em péssimas condições. A cidade é ligada a todo o país por meio de rodovias e todas elas possuem boas condições de tráfego. Há uma linha de trem que corta a cidade, mas que está desativada desde os anos 90. Os moradores andam de carros, motos ou bicicletas e aqueles que não têm podem se utilizar de um transporte coletivo desde que pague uma tarifa pelo uso.

Política

A cidade de Peruíbe é comandada, em tese de lei, por um prefeito eleito pela maioria dos moradores. As leis locais são feitas por 15 pessoas chamadas de vereadores, que tem por dever fiscalizar e acompanhar os trabalhos da equipe do prefeito. De acordo com as minhas observações, notei que estes senhores vivem a gozar de benefícios e estão preocupados apenas com os próprios interesses e nada fazem para melhorar o infortúnio das pessoas. São folgados, larápios e obsoletos. Nada ouso escrever mais destes rapinantes devido ao nojo e desprezo que senti. Nenhum dos que pertenceram a família Khan aceitaria qualquer um deles morando no interior de seus domínios.

Religião

Algumas pessoas são idólatras, pois acreditam mais no líder religioso do que no próprio Deus da religião que ele prega. É permitido qualquer tipo de religião e os templos e igrejas erguidos são isentos de tributos. Após os cultos, missas e outras práticas todos os membros se retiram e se misturam em meio aos outros, de modo que não é possível identificar quem pertence a qual segmento religioso. Todos os religiosos e os não religiosos são pegos diariamente cometendo os mesmos delitos, apesar da religiosidade distinta.

Cultura

A cultura em Peruíbe… Os valores por aqui parecem invertidos.

Mortos

Os mortos não são enterrados. Eles ficam em uma pequena edificação com espaço para três caixões, de modo que ficam um em cima do outro. O terreno é situado em um local escuro e abandonado. Se duas famílias vierem a chorar mortos distintos não vai ter espaço para praticarem o consolo. Passado o tempo de decomposição, os ossos vão para um espaço ainda menor para que outro defunto venha ocupar o espaço deixado. Me recordo aqui das minhas andanças pelo setentrião onde os mortos de lá eram levados para as montanhas para que os seus restos mortais não fossem pisados nem por humanos e nem por animais.

Música

A música própria da cidade é muito bonita, mas vem perdendo espaço para músicas que vem de outros locais. Músicas estas que muitas vezes incitam a degeneração sexual ou o infra-sexualismo. As que mais fazem sucesso são as desprovidas de melodias e harmonia. As que atraem mais o público são aquelas com um só ritmo e poucas notas, criações que seriam abominadas pelos grandes mestres clássicos.

Educação

A educação na cidade é praticada em construções erguidas somente para este feito. As crianças de até 10 anos estudam em escolas de Peruíbe, enquanto as maiores passam para o estado. Nas escolas estaduais o aluno bom tem muito dos seus direitos violados e deve se esforçar muito para ter um futuro melhor para si e para a sua família. Por outro lado, o aluno que faz todo o tipo de práticas desagradáveis tem todos os seus direitos resguardados. A direção da escola perde mais tempo cuidando e pensando nos maus alunos, enquanto talentos ficam se perdendo, mofando nas cadeiras e não são estimuladas como deveria. Parece que o sistema foi criado para formar pessoas más, grosseiras, estúpidas e ignorantes. Os professores são mau-pagos, apesar da grande importância de sua profissão e o caminho árduo que se faz para conseguir um diploma. Há uma cartilha que trata os alunos como retardados, nada ensina, mas que serve de base para um tipo de prova com a qual o estado mede a qualidade do ensino. Como a cartilha é fácil, óbvio que as notas serão boas.

Bandidos

Ao contrário do que acontecia nas terras de Kublai Khan, onde os bandidos eram condenados a castigos físicos (que poderiam levar a morte) em praça pública para servir de exemplo para os demais e também para nunca mais incomodar a vida dos trabalhadores, os daqui vão para prisões custeadas pelo povo. Recebem moradia, comida, agasalho e até tratamento médico e odontológico. Benefícios que a maioria dos trabalhadores honestos não têm. Da cadeia, muitos deles conseguem articular assaltos e ainda têm visitas íntimas. Será que acabar com os castigos em praça pública foi mesmo uma evolução?A situação agora melhorou? Independentemente da sua resposta, é preciso tomar cuidado ao andar por estas terras. Há bandidos por toda a parte. Você pode ser assaltado, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Polícia

Não há exército em Peruíbe. A guarda é feita pela polícia local que em tese de lei deve cuidar para que a ordem e a paz sejam mantidas. Bandidos e seus familiares também são partes do povo e o policial deve zelar pelo bem de todos eles, o que torna uma luta injusta. Enquanto um policial é alvo para os bandidos, com as suas armas, escudos transparentes, cassetetes e capacetes reluzentes, o bandido de vestimenta comum não é alvo para o policial.

Comercio

Existem grandes comércios espalhados ao longo do território que vendem de tudo. Todo o tipo de especiarias, frutas e alimentos são comercializados por aqui, de forma que se observa que há grande fartura das coisas. Todo o tipo de venda e tudo o que é movimentado, grande parcela vai para o governo em forma de imposto. Praticamente todos os itens não são produzidos na cidade. Há dois comércios que poderiam vender produtos 100% municipais. Um é a feira de artesanato, que vem se tornando uma feira do Paraguai e o mercado de peixes, de onde é possível comprar peixes que não se encontram nos mares daqui.

Bebidas

Existem vários tipos de bebidas e drogas inebriantes e que fazem muito mal a saúde. O tipo de bebida mais consumido depende da classe social ou da moda vigente. É normal e bacana beber. Trata-se de pessoa descolada e que goza de bom convívio social. As mais consumidas são as cervejas e os refrigerantes. Curiosamente boa parte de seus consumidores não sabem nem do que são feitos. O refrigerante é um líquido gaseificado e que não vem de fruta alguma. É ruim, maléfico e estranho. O curioso é que todos parecem saber desta afirmação.

Trabalho

Existem trabalhos leves e pesados. Quanto mais esforço o trabalhador usar para executar o seu ofício, menos será a sua remuneração. Por outro lado, quanto mais tranquilo for o trabalho de quem vive por aqui, maior é a recompensa. Esta situação é contrária às leis da natureza, onde o animal que mais trabalha consegue propiciar boas condições para si e para a sua família, como podemos ver observando outros animais.

Partida

Depois de 28 dias observando e anotando tudo, com o objetivo de descrever com exatidão para o grande Khan,marchei para visitar outras terras e paisagens…

Autoria, Criação e Texto: Marcio Ribeiro

Inspirado no livro: As viagens de Marco Polo

Agradecimentos: Fábio Ribeiro

Trata-se de uma obra de ficção

Todos os direitos reservados – Março de 2017

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MTB 0078407

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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