A Pandemia e a educação no estado de SP

Autor: Enzio Meixedo Chiarelli (Biólogo e Educador)

No dia 23 de Março de 2020, o governo do Estado de São Paulo suspendeu as aulas presenciais devido ao elevado risco de propagação do vírus. Esta decisão foi acertada do ponto de vista técnico, uma vez que diminui a circulação de pessoas que diariamente se deslocam tanto para ir como para voltar da escola.

Entretanto, essa suspensão deu início a um processo de construção de um formato de Educação à Distancia. Antes de louvarmos esta iniciativa, vamos às conjunturas.

Retrocedendo um pouco no tempo, o ensino do estado de São Paulo vem sendo sucateado há 3 décadas, depois de sofrer um processo de expansão durante as décadas de 60 e 70. A evasão escolar foi um problema constante na educação, motivo de críticas por parte da sociedade em geral. Concomitante, as diretorias de ensino recebiam muitas reclamações sobre eventuais abusos cometidos pelos professores, no sentido de reprovar o aluno sem o devido merecimento. O aluno “sentia-se” prejudicado, entrava com recurso e era aprovado de forma que a avaliação do professor era subjugada. Os pais, conhecedores desta situação, começaram a utilizar deste dispositivo para evitar que seu filho não fosse reprovado. Não vejo nenhum problema em qualquer cidadão que se sinta prejudicado procurar seus direitos. O que me causa estranheza é o fato dos dirigentes entenderem que todo aluno deveria ser aprovado independente do seu aprendizado. Então estava criado o sistema de progressão automática.

No intuito de equacionar essas questões, a secretária, Rose Neubauer, durante a gestão do governador Mário Covas, alterou essa disposição. Com isso, melhoraram os índices de evasão e repetência, mas a qualidade da educação caiu vertiginosamente. Um truque de mágica mas que não atacou o problema pela raiz. Os motivos da evasão e repetência estão relacionados à questões sociais do que problemas pedagógicos.

Paralelamente a tudo isto, as condições de trabalho para os professores foram definhando sem nenhuma autoridade competente se importar. Se vistoriarmos qualquer escola estadual, veremos que sua edificação lembra mais um presídio do que uma escola. As condições que professores e alunos são submetidos são no mínimo precárias. No verão, salas tão quentes como uma sauna e, no inverno, frias como uma caverna. Lousas sem condições de uso, paredes infiltradas, são situações enfrentadas no cotidiano…

A explosão tecnológica piorou a situação, degradando ainda mais a desgastada relação professor-aluno. De um lado o professor com as condições medievais de magistério e, de outro, o aluno dominando as últimas inovações.

Não vou nem entrar no mérito sobre vencimentos, porque é óbvio que é ridícula diante da responsabilidade.

Diante de tudo isso, qual a real preocupação do governo com a educação durante a pandemia?

Fica difícil entender essa proposta de EAD sem nos atermos a tudo isso.

Será que quando as aulas presenciais voltarem haverão lousas digitais, internet na sala, datashow, tablet para todos os alunos?

Ficam estas e outras perguntas para além da reflexão.

O que o governador Dória e seus asseclas resolveram que a melhor saída para não haver perda do ano letivo seria a implementação de um sistema de educação à distância. Aos olhos dos leigos parece uma opção bem razoável. Contudo, aos envolvidos, desde alunos até dirigentes, a história é outra.

A maioria dos alunos não possui acesso à tecnologia. Se tem o aparelho celular, computador ou tablet, não dispõem de internet. Muitos não têm sequer uma refeição digna diariamente.

Os pais estão desesperados sem saber o que fazer com seus filhos em casa, estão convivendo com os filhos mais de perto e vivenciando as mazelas que os professores enfrentam diariamente.

Os professores estão sendo obrigados a utilizar seus próprios recursos para trabalhar, como aparelhos celulares, notes, computadores, pacotes de dados, entre outros. Em contrapartida, estão tendo todos os descontos possíveis no seu holerite. Não obstante, estão trabalhando mais horas do que se estivessem em sala de aula, tentando desesperadamente assimilar uma enxurrada de informações, que em alguns momentos chegam a ser conflitantes.

Os professores estão aflitos, com medo de não receberem seus proventos, devido a metodologia confusa e insuficiente para aferir a presença dos mesmos.

Os dirigentes, bem como o pessoal da secretaria, estão tendo que cumprir carga horária dentro da escola, expondo-se a um risco que eu entendo ser desnecessário.

Não bastasse tudo isso, o aplicativo não funciona corretamente, tanto é que estão utilizando outras plataformas porque ele é insuficiente. Os horários propostos estão fora do período normal de aulas.

Os problemas não param por aí. Os alunos da rede particular possuem vantagem em relação aos da rede pública, por várias razões, não só no aspecto social, mas principalmente pela diferença na qualidade do ensino. Não que o ensino particular seja um abismo de diferença em relação ao público, mas o patamar geral é muito aquém do razoável. Por isso, fracassos retumbantes em competições internacionais desfilando sempre nos últimos lugares.

Em suma, uma mudança como essa, de aulas presenciais para EAD não pode e não deve ser feita desta maneira. Deve ser mais uma ferramenta na aprendizagem e não o carro chefe.

Esse formato proposto de EAD está fadado ao fracasso, uma vez que não abrange todas as diferenças entre os envolvidos. Contudo certamente isso será usado em um palanque político.

Abaixo, uma das aulas no Centro de Mídias, do Governo do Estado de São Paulo, em maio de 2020

Texto e Criação: Enzio Meixedo Chiarelli  (Bíólogo e Educador)

Imagem: de athree23 por Pixabay

Postagem: Márcio Ribeiro / O Garoçá

Contato: [email protected]

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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